Murphy Days

Murphy, presente de Grego

Escrito por Rose Carreiro

Rose Carreiro foi à Grécia. Mas é claro que Murphy reservou um presentinho para ela…

Eu, enquanto agente de viagens, nunca dei a volta ao mundo. Mas f*dida que sou, gastei o mesmo tempo pra ir de Londrina a Atenas.

Você, leitor juvenil, que não sabia que eu fui pra Grécia…eu fui! E melhor, quase de graça. Digo quase porque paguei as “passagi”. Daí, como todo bom pobre, economizei, fiz três conexões, e, como diz minha chefe, na classe toco duro. Um dia e meio sem tomar banho, sem trocar de calcinha, sem dormir esticada, comendo comida de isopor, e lá estava eu, batendo cabeça na sala de espera em Londres. Às vezes penso que não existe falta de sorte, e sim castigo pra pobre.

Cansaço era coisa pequena, eu tinha de sofrer mais. Pensei, enquanto esperava pra embarcar no voo pra Atenas: chego lá, meu assento é na janela, vou dormir as quatro horas de viagem. Mas quando eu menos esperava, chega na sala de embarque um grupo de 50 crianças falando alto, atropelando os demais passageiros e fazendo o que melhor sabem fazer: serem crianças.

Rezei muito pra que eles não estivessem no mesmo voo que eu, mas é claro que estavam. Entrei no avião e tinha uma menina sentada no meu lugar. Deixei ela ficar lá e sentei na poltrona do corredor, mas mal fechei os olhos, me cutucaram: as menininhas do meu lado queriam me dizer, num inglês a la Royce Grace, que meus olhos eram bonitos. Oun, neah?! Oun nada, ficaram tagalerando e trocando de lugar a viagem toda. E a cada sacolejada na minha poltrona, uma delas me dizia: excuse me.

Imagine um bando de italianos falando. Os gregos fazem do mesmo jeito. Foram quatro horas de gritaria e correria pelos corredores, além da fila de espera na porta do banheiro. Mas eu cheguei. Eram quase duas da manhã e eu estava lá, em Atenas, meu amor.

Taí a prova.

Acho que Murphy ficou preso no meio da criançada, porque depois de chegar na Grécia tudo correu muito bem, obrigada. Fora o roaming e o Visa Travel Money que não funcionaram, aproveitei dias lindos de sol, com comida boa, paisagens paradisíacas e ainda foi confundida com uma russa, uma turca e uma européia qualquer. A Grécia é um país sem Murphy. Aliás, a Grécia é O país. Tudo aquilo que falam de ser um lugar lindo e romântico é verdade, ou melhor, é pinto perto do que se vê quando está lá. E falando em pinto, eles estão por todo lugar…de madeira, de vidro, em desenhos, porta-copos com posições do Kama Sutra – uma lou-cu-ra. Mas isso é assunto pra outro blog…

Na volta de Atenas pra Londres, ninguém veio sentado ao meu lado e eu dormi a viagem toda. Mas a Grécia foi tão encantadora que meu dia em Londres foi decepcionante. Andei feito uma mendiga, comi mal, gastei mais dinheiro num dia em Londres do que numa semana na Grécia e ainda fui maltratata pela garçonete no aeroporto. Mais um dia e meio sem banho, cheguei bem, porém fedida, ao Brasil. E tudo isso pra constatar que no dia seguinte Murphy já me esperava na cadeira do trabalho.

Sobre o autor

Rose Carreiro

Nascida num 20 de Outubro dos anos 80. Naturalmente petropolitana, com passaporte carioca. Flamenguista pé frio e expert em não se aprofundar em regras esportivas. Fã de Verissimo – o Luis Fernando – e Nelson, o Rodrigues (apesar de tudo). Poser. Pole dancer com as melhores técnicas para ganhar hematomas. Amadora no ofício de cozinhar e fazer encenações cômicas baratas. Profissional na arte de cair nos bueiros da Lei de Murphy.

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