Etiqueta Sem meias palavras

Mundo chato

Escrito por Rose Carreiro

A gente fica cansado do noticiário, dos compartilhamentos, blocks, deletes e Kéferas produzidos por uma nova tendência: a de que a sua liberdade de expressão só vale se você estiver do meu lado.

Fato é que meu humor não anda dos melhores, mas por isso eu venho aqui, me deito, e falo. Esse mundo está chato. Não se pode falar de nada, fazer piada de nada (que não esteja nos Trending Topics, que fique a ressalva) e logo vem a série de mimimis, delongas, lamúrias ou, traduzindo, textos seguidos de emojis de aplausos redes sociais afora.

Estou um pouco cansada desse mundo politicamente correto. E a lenga-lenga da Fernanda Torres foi a última gota escorrida do meu reservatório de paciência. É recorrente: pessoa pública fala o que pensa sobre um assunto X → Pessoa pública aparentemente fala algo que vai contra os direitos adquiridos da humanidade → Formador de opinião de Facebook e legião seguidora metem o pau em pessoa pública → Pessoa pública tem de se desculpar (o tradicional arrego).

Todo mundo tem que ser feminista, anti-isso, anti-aquilo, ter a mente aberta, deixar as crianças fazerem o que bem entendem – ou não! – de suas vidas… e, olha que gracinha o filho da Adele vestido de princesa na Disney.

Vivemos assim, num sem fim de processos morais, de protestos, de gente tantã saindo pelada pelas ruas se sentindo no direito de mijar em imagem de santo e tacar fogo em qualquer coisa, que da última vez que me lembro, eram apenas pares de sutiãs.

A gente fica cansado do noticiário, dos compartilhamentos, blocks, deletes e Kéferas produzidos por uma nova tendência: a de que a sua liberdade de expressão só vale se você estiver do meu lado. Fazer piada com atentado pode, criticar a sub-celebridade não pode. Nos dividimos entre: quem faz panelaço é coxinha branco de classe média; quem não faz é morto de fome que precisa das benesses Dilmenhas; e quem fica abstêmio das manifestações é um alienado. Eu sou só uma pessoa cansada.

Às vezes, eu quero rir de Trapalhões e suas piadas infames. Quero ver Todo Mundo Odeia o Chris sem pensar em problema racial. Às vezes, a Fernanda Torres tem razão. Cansa.

Sobre o autor

Rose Carreiro

Nascida num 20 de Outubro dos anos 80. Naturalmente petropolitana, com passaporte carioca. Flamenguista pé frio e expert em não se aprofundar em regras esportivas. Fã de Verissimo – o Luis Fernando – e Nelson, o Rodrigues (apesar de tudo). Poser. Pole dancer com as melhores técnicas para ganhar hematomas. Amadora no ofício de cozinhar e fazer encenações cômicas baratas. Profissional na arte de cair nos bueiros da Lei de Murphy.