Até aquela manhã, nunca tinha imaginado como tudo poderia ser tão difícil. O telefone tocando muito mais cedo do que seria conveniente pra nós num final de semana, nervosismo do outro lado da linha e a minha saída meio desesperada ao teu encontro. Com uma ponta bem grande de esperança de que riríamos muito disso ainda naquele dia eu fui. No meio do caminho, conversando com um dos nossos, ensaiava um esporro para aquilo que seria só um susto.
Chegamos correndo, não te encontramos e não consegui nem te ver antes que tudo começasse a desabar. Eu não sei mais narrar como foi aquele dia, às vezes ele volta à minha cabeça como um pesadelo sem muita ordem. Avisar os outros irmãos, tentar ajudar da forma que podia e conseguir entender tudo foi muito difícil. Eu não acho que tenha conseguido, mas doía tanto, que só fiz o que pude.
Três anos se passaram. É bem verdade que foi muito complicado superar o primeiro ano. Não deixa de ser um aprendizado diário, mas as primeiras datas sempre batem com mais força. É possível que batam sempre da mesma forma, não sei. Talvez a gente só aprenda a apanhar. Eu ainda não superei algumas coisas, não perdi alguns hábitos e não encontrei algumas respostas, de certo modo, eu resolvi deixar essa parte mais complicada de lado e lembrar de tudo que foi bom. Felizmente, foram muitas coisas.
Ainda me pego ponderando decisões imaginando sua opinião a respeito. O colegiado perdeu parte importante, nosso membro mais ilustre. Quanto aos nossos, vamos tentando fazer o que dá, mas venho sempre me esforçando pra que a gente se mantenha próximo, do jeito que você também sempre quis. Acho que posso dizer que temos dado certo, você teria orgulho de acompanhar isso tudo. Estamos ganhando espaço, estamos ganhando o mundo e assim vamos tentando seguir aquele nosso plano.
Eu evito ter certezas, mas sei que você tá vendo. Se as coisas precisam ter sentido nessa vida, com certeza você tá vendo e ajudando. É difícil conseguir se conformar com certezas que não provamos, mas alguém como você não estaria longe de nós e nem em qualquer lugar que não fosse bom.
Não cumpri alguns acordos, admito. É que é muito difícil ficar próximo demais de tudo que me lembre você o tempo todo. Mesmo assim, eu tô tentando companhar, ajudo como eu consigo, da forma como aguento. Você me chamaria de frouxo. Talvez me entendesse, não sei. Mas, no fim das contas, você entenderia.
Vou tentar não chorar hoje, vou lembrar de você com carinho, brincar que você acabou com o aniversário do Zico e tentar sorrir. Se der e alguém topar, vou encontrar um dos nossos, lembrar de você e dar algumas gargalhadas.
Continuo contigo, meu irmão. Siga olhando por nós até nosso reencontro.
Amo você.
