Pensamentos crônicos Tempestade de Cérebros

Depois dos 30

Escrito por Patrícia Librenz

Depois dos 30, a gente aprende que ser feliz só depende de nós mesmas.

Depois dos 30 anos, eu percebi que muitas pessoas já conseguiram mudar o que eu sentia por elas, mas não conseguiram mudar o que sinto por mim — pois posso afirmar com convicção que, HOJE, o que sinto por mim mesma é inabalável. É indescritível esta sensação de felicidade, de quando você olha para dentro de si mesma e gosta do que vê. São coisas que somente o tempo e a maturidade proporcionam. Então comecei a pensar no quanto eu mudei nos últimos quatro anos… depois de virar balzaquiana.

Depois dos 30, a gente aprende que viajar e tirar férias sozinha pode ser surpreendente e que isso pode trazer descobertas maravilhosas sobre nossa própria pessoa.

Depois dos 30, a gente aprende que a melhor época da nossa vida é agora e que esta é nossa melhor versão de nós mesmas.

Depois dos 30, a gente aprende que, quando a gente se ama acima de tudo e de todos, ninguém consegue mudar o que sentimos por nós mesmas.

Depois dos 30, a gente aprende que, quando estamos sós, estamos na melhor companhia possível.

Depois dos 30, a gente aprende que ter alguém é fantástico, mas que o amor de outra pessoa não é a coisa mais importante nesta vida.

Depois dos 30, a gente aprende que, não importa o quão maravilhosa sejamos, nem sempre “aquele cara” estará preparado para viver ao lado de uma mulher assim.

Depois dos 30, a gente aprende que não vale a pena manter um relacionamento por preguiça de conhecer outras pessoas.

Depois dos 30, a gente aprende que o nosso comodismo custa caro, custa muito caro: custa o nosso tempo — e o tempo desperdiçado jamais voltará.

Depois dos 30, a gente aprende que desistir de algo, muitas vezes, é só para os fortes, pois nem tudo vale a nossa luta e poucos conseguem distinguir isso. Não sei nem se trata-se de uma desistência, estaria mais para uma mudança de paradigma.

Depois dos 30, a gente aprende que autoestima, autoconhecimento e autoconfiança são diferentes pontas de um mesmo nó. Uma mulher bem resolvida, segura de si, só é assim porque aprendeu a amar-se.

Depois dos 30, a gente aprende a deixar de desejar o outro quando o que desejamos está muito além do que este tem para nos oferecer.

Depois dos 30, a gente aprende que viver longe da família é dolorido, mas que isso nos faz evoluir mais rapidamente.

Depois dos 30, a gente aprende que tudo tem seu tempo certo e que, muitas vezes, é preciso dar um passo para trás para, depois, dar dois passos à frente.

Depois dos 30, a gente aprende que, não importa o quanto as coisas deram errado, sempre teremos a oportunidade de um recomeço.

Depois dos 30, a gente aprende que amigos de verdade nunca saem das nossas vidas, mesmo que a distância nos separe por anos, mas aprendemos que temos que deixar a porta sempre aberta para a chegada de novos amigos.

Depois dos 30, a gente aprende que amar o outro mais do que a nós mesmos só nos traz dor e sofrimento.

Depois dos 30, a gente aprende que mais vale viver somente com um gato e um cão e ser feliz, do que estar em um relacionamento falido só para manter o status no Facebook.

Depois dos 30, a gente aprende que um casal, para funcionar, precisa “viver como um casal”, e não como dois colegas de quarto que dividem as despesas e os afazeres domésticos.

Depois dos 30, a gente aprende que a amizade é um amor mais sincero do que o amor romântico. A amizade não exige exclusividade, a amizade sobrevive mesmo a distância, a amizade não faz cobranças sem fundamento; seus amigos nunca irão vasculhar seus e-mails, redes sociais, computador ou seu smartphone em busca de pistas de infelicidade infidelidade.

Depois dos 30, a gente aprende que praticar uma atividade física regularmente pode ser bem prazeroso.

Depois dos 30, a gente aprende que não vale a pena desperdiçar nosso amor com uma pessoa que não pode nos amar.

Depois dos 30, a gente aprende que “a dor é inevitável, mas o sofrimento é opcional”, e que só algumas coisas (e raras pessoas) merecem nosso sofrimento.

Depois dos 30, a gente aprende que, não importa o quanto a Capitu seja inocente, sempre vai ter um Bentinho para achar o Ezequiel a cara do Escobar… porque as pessoas só veem aquilo que elas querem ver.

Depois dos 30, a gente aprende que é muito bom ter uma amiga de 20 (meio ‘fora da casinha’ e ‘sapatão’), só pra ter umas histórias para contar e rir um pouco da vida.

Depois dos 30, a gente aprende que, não importa o quanto alguém nos feriu e o quanto estamos desacreditas do amor, sempre poderemos nos apaixonar de novo e nos estrepar de novo. Mas, tudo bem, afinal, superar uma desilusão está bem mais fácil agora, depois que aprendemos tantas coisas.

Depois dos 30, a gente aprende que ser feliz só depende de nós mesmas.

Sobre o autor

Patrícia Librenz

Mãe de dois gatos, um autista e outro que pensa que é cachorro. Casou com um veterinário, na esperança de um dia terem uns 837 animais. Gaúcha no sotaque, pero no mucho nos costumes. Radicada em Foz do Iguaçu desde 2008, já fez mais de 30 mudanças na vida. Revisora de textos compulsiva, apaixonada por dicionários. A louca do vermelho. A chata que não gosta de cerveja. A esquisita que não assiste a séries. Dona da gargalhada mais escandalosa do Sul do Mundo. Mestra em Literatura Comparada, é fã de Machado e Borges, mas ignorante de Clarice Lispector e intolerante a Paulo Coelho. Não necessariamente nessa ordem.