Tempestade de Cérebros

A pior versão de Augusto

Escrito por Brunno Lopez

De respeitável, nem o público. Tantas cores para esconder o sorriso amarelo, daqueles que nunca se abrem por inteiro. É uma fresta de expressão facial, criada por mero protocolo de cumprimentos sociais.

Durante o espetáculo, sob uma maquiagem de qualidade questionável que escorre a cada ameaça de transpiração, o personagem criado para enriquecer o entretenimento de desconhecidos se desequilibra emocionalmente e cai num palco com mais espectadores do que expectativas.

De respeitável, nem o público. Tantas cores para esconder o sorriso amarelo, daqueles que nunca se abrem por inteiro. É uma fresta de expressão facial, criada por mero protocolo de cumprimentos sociais.

Apresentava-se com notável maestria em locais onde a dignidade não fazia visitas. Debaixo de palmas que mais pareciam ruídos, observava a facilidade latente das pessoas em estenderem seus discursos e quase nunca suas mãos.
Não se tratava apenas de empunhar o mastro de uma pesada bandeira que tremulasse piedade e empatia, mas a indiferença travestida de ignorância na moda cultural daquela sociedade lhe descolossoava com sucesso.

Vasculhou nos escombros de sua memória curta algum fragmento daquela voz rouca – o único artifício que lhe fazia manter um bom relacionamento com a sanidade, aquele abalo sísmico que desconstruía suas dúvidas e escrevia roteiros mais otimistas para seus sonhos breves.

Percebeu que seu armário de sensações estava meticulosamente organizado pelo caos.

Ele perdeu os quatro sentidos daquela que lhe representava uma passagem para o melhor do que poderia ser, e agora, o quinto e último tinha feito as malas.

Era finalmente, um palhaço completo.

Sobre o autor

Brunno Lopez

Um ilustrador de palavras que é a favor de tudo que é do contra. Um publicitário que não faz propaganda.
Um otimista aposentado que dá um tapa nas costas da vida enquanto o resto do mundo a empurra existência abaixo.
Um compositor de letras cotidianas sob um violão desafinado.
Um desenhista de verbetes que tem muitas certezas sobre as próprias dúvidas e acredita que o amor não passa de um tapete mágico que sobrevoa as misérias humanas.