Divã-neando Pensamentos crônicos

O que é que vou fazer com essa tal ansiedade?

Escrito por Patrícia Librenz

Pessoas ansiosas pensam demais no futuro. Portanto, não adianta você nos dizer que “não devemos sofrer por antecedência”. A gente sabe que é inútil, mas fazemos isso recorrentemente. Temos 1000 projeções para cada realidade possível, pois, acredite, já pensamos em todas as possibilidades.

Se tem uma coisa sobre a qual eu tenho propriedade para falar, meus queridos leitores, essa coisa é a porra da ansiedade! E, já que a Mayara Godoy fala por aí que eu sou “a louca da literatura”, eu vos digo mais: tenho licença poética pra falar desse caralho assunto, pois sou a rainha da ansiedade!

No início de 1998, descobri que minha ansiedade era patológica. Fiquei doente quando estava no terceiro ano do Ensino Médio. Sofria de enxaquecas e dores de estômago terríveis. Precisei ir ao hospital, inúmeras e inúmeras vezes, e não fiquei internada por pouco. Diagnóstico: gastrite nervosa. E eu tinha apenas 16 anos…

O mais engraçado é que, quando eu digo que sou uma pessoa ansiosa, algumas pessoas ficam surpresas: “Sério, Pati!? Você não parece!”. É que, por eu ser uma pessoa bem-humorada e segura, muitas vezes, para quem tem pouca intimidade comigo, eu posso aparentar ser um poço de tranquilidade. E esse é o tipo de ansiedade mais perigosa que existe, pois a pessoa não projeta seus sentimentos para fora e sim para dentro. Passei por vários episódios na vida em que surtei de ansiedade e depois que passou, só me perguntava (como diria minha amiga Franciele): “Pra que isso, cara?”.

woman-1006102_1280Pessoas ansiosas pensam demais no futuro. Portanto, não adianta você nos dizer que “não devemos sofrer por antecedência”. A gente sabe que é inútil, mas fazemos isso recorrentemente. Temos 1000 projeções para cada realidade possível, pois, acredite, já pensamos em todas as possibilidades. O lado bom disso (sim, existe um lado bom, não é 100% sofrimento psíquico – só uns 99…) é que não existe praticamente nada que nos pegue de surpresa (exceto a morte trágica de alguém querido), pois em algum momento já pensamos naquilo, já nos vimos naquela situação e já sabemos como agir. Quando fui nomeada para um concurso em Chapecó, mais de dois meses antes eu já tinha casa pra morar e já sabia tudo o que tinha por perto do apartamento, mesmo sem jamais ter pisado lá (Google Maps). Hoje, já tenho uma projeção razoável de como será minha vida em 2019 e do tema da minha pesquisa do doutorado – sendo que iniciarei o mestrado só no mês que vem!

Passei por algumas situações dramáticas nesta vida, que, para uma pessoa normal, são apenas degraus, mas para um ansioso são verdadeiras provas de fogo: desde os Vestibulares até a seleção recente para o mestrado. De 2010 a 2012, eu fui concurseira. Fazia todos os concursos possíveis e imagináveis perto de mim. Alguns até longe daqui. Viajei muito ao RS e SC pra fazer prova nesta vida… E o interstício entre a prova e o resultado final do concurso era o meu momento de sofrimento psíquico. Praticamente uma mostra de instrumentos medievais para tortura. Eu passava horas e horas naqueles fóruns de concurseiros… Quando pedi redistribuição para a UNILA, de junho a outubro de 2013 eu vivi o inferno na terra. Como eu somatizo tudo, passei a ter crises homéricas de enxaqueca, dessas de ter que ir todo o dia ao hospital para tomar medicação endovenosa, porque NADA funcionava via-oral (e, para ajudar, ainda sou alérgica a dipirona monossódica). Só era possível sobreviver no escuro do meu quarto. A neurologista chegou a me receitar medicamento de uso controlado (felizmente, não entrei nessa) e tudo só ficou bem quando li meu nome no Diário Oficial.

Mas acho que nada neste mundo me deixou tão fora de órbita quanto o processo seletivo para o mestrado, que foi em maio e junho deste ano. O calendário do edital era lido pelo menos três vezes ao dia para eu ter certeza de que estava esperando a publicação no dia certo – e certificar-me de que o que eu li há meia hora era aquilo mesmo ou… vai saber… Eu preferia quando o cronograma trazia a informação “até o meio-dia”, pois assim eu sabia que perderia apenas a metade do meu dia na tecla F5, caso contrário, seria um dia inteirinho ali. Foram tantos editais preliminares e pós-recursais, que eu me vi à beira de um ataque de nervos! Sério. Não via mais a hora daquilo terminar e, honestamente, se não tivesse sido aprovada, não sei se teria estrutura psicológica para passar por isso de novo. Não neste ano. Engordei sete quilos nessa brincadeira e agora estou numa luta contra a balança.

Compreendi, definitivamente, que talvez eu não consiga dar conta disso sozinha e precise de ajuda profissional. Hoje entendo isso como sendo um transtorno comportamental grave, porque não é nem um pouco razoável passar pelo sofrimento por que passei. Percebi que, ao invés de eu estar melhorando e aprendendo com as experiências anteriores, a coisa está ficando cada vez pior e mais fora de controle.

Comecei, então, a me questionar o que foi que me deixou mais ansiosa de uns anos pra cá e acho que encontrei uma resposta válida: a velocidade das informações nos tornou imediatistas. Queremos soluções rápidas, pra ontem! Pensem comigo: antes do telefone existir, as pessoas namoravam por carta! Usavam pombo correio! Uma resposta levava DIAS, muitas vezes MESES para chegar. Hoje, se enviamos uma mensagem pelo whatsapp e a pessoa não responder em cinco minutos, já começamos a ter um siricotico. É ou não é? Quando fiz o primeiro vestibular, em 1999, o resultado era divulgado NA RÁDIO. E era em ordem alfabética por curso… depois, seguia a ordem alfabética por nome dos aprovados. Não tinha essa de ir lá clicar direto no teu curso e ler o teu nominho na tela. Hoje em dia, se no edital consta “até meio-dia”, já fico meio furiosa com a falta de precisão. Aliás, nada tortura mais uma pessoa ansiosa do que essa maldita preposição: “até“. Gente, parem de usar isso, é muito sofrimento!

E, já que resolvi abrir o meu coração aqui, falando de um baita ponto fraco da minha personalidade (porque é muito difícil falar de algo que não gostamos em nós mesmos), vou aproveitar para fazer uma série sobre este tema no blog. Quem sabe, numa dessas, um outro colega colaborador aqui do Crônicas inspire-se para falar sobre este mesmo assunto, que o atormenta também.

Agora que a vida está me dando uma belíssima oportunidade de eu trabalhar este meu relacionamento patológico com a ansiedade, a ideia é, aos poucos, ir relatando aqui como é que estou me saindo nisso.

Aguardem cenas dos próximos capítulos e, se você for ansioso e quiser saber “o que que tá conte seno”, já aviso que não adianta perguntar, pois só irei desvendar aos poucos, conforme minha evolução…

Sobre o autor

Patrícia Librenz

Mãe de dois gatos, um autista e outro que pensa que é cachorro. Casou com um veterinário, na esperança de um dia terem uns 837 animais. Gaúcha no sotaque, pero no mucho nos costumes. Radicada em Foz do Iguaçu desde 2008, já fez mais de 30 mudanças na vida. Revisora de textos compulsiva, apaixonada por dicionários. A louca do vermelho. A chata que não gosta de cerveja. A esquisita que não assiste a séries. Dona da gargalhada mais escandalosa do Sul do Mundo. Mestra em Literatura Comparada, é fã de Machado e Borges, mas ignorante de Clarice Lispector e intolerante a Paulo Coelho. Não necessariamente nessa ordem.