Combati o bom combate, completei a corrida e perseverei na fé.
Essa passagem bíblica é de uma carta de Paulo a Timóteo que interpreto de forma livre e solta, sem muitas preocupações eclesiásticas, mas que definem grande parte das relações amorosas, pessoais ou profissionais bem resolvidas. Pelo menos para uma das partes.
O fim de alguma coisa é quase sempre traumático e dolorido, mas também pode ser revigorante. Algumas relações que começam como um bálsamo pro corpo e pra alma acabam terminando como uma espécie de fardo, pesado e doloroso, que vamos carregando enquanto drenam nossa energia.
Os motivos do desgaste são sempre variados, cabe a cada parte avaliar os passos que foram dados para que esse caminho fosse percorrido. O único fato quase irrefutável é que nenhuma relação se deteriora por apenas uma das partes.
Voltando ao tema central e ao brilhantismo de Paulo, noves fora suas reais intenções, essa citação sempre me trouxe a sensação de alguém que chega ao fim de alguma coisa tendo a certeza de que deu o seu melhor. Embora o seu final deixe tudo um pouco mais aberto e otimista, isso fica pra depois.
Dentro do universo das relações, esse pode ser um passo para a tranquilidade ou para a indiferença. Afinal, quando tranquilos, a indiferença, principalmente quando temos relações traumáticas, quando o fardo já nos machucou bastante, ela fica logo ali. Em relações mais bem resolvidas, fica o conforto. Às vezes, o carinho.
Poucas coisas são mais libertadoras do que conseguir mover algo para a famosa e pequenina caixinha dos assuntos bem resolvidos. E para que um assunto se torne bem resolvido, é fundamental que você não se culpe. E para que você não se culpe é fundamental que tenha a certeza de que fez seu melhor, deu o melhor de si… combateu o bom combate.
O primeiro passo para que uma relação termine de forma digna é a conclusão de que aquilo chegou ao seu fim, quando sem culpa, ou quando com a certeza de que tudo aquilo que deveria ser feito ou tentado foi, de fato, feito e tentado. O esgotamento a partir da boa sensação de dever cumprido, da percepção de dignidade ajuda na real e definitiva conclusão de que a corrida chegou ao fim.
O encadeamento desse processo, nem sempre é lógico, nunca é fácil e sempre é doloroso demais. Doloroso, sim. Mas também muito libertador. A conservação da fé na melhoria, a continuidade da vida baseada na crença de que aquilo é do jogo, de que faz parte do ciclo da vida ajuda na caminhada, sempre em frente.
Lágrimas secas, uma bela e profunda respirada, mesmo que trêmula, olhos mirando o horizonte com um coração em paz, mesmo com o fim. É possível identificar cada passo e ser mais feliz, mesmo que a tristeza do momento bata forte.