Pensamentos crônicos

Montanha-russa? Não, obrigada.

Escrito por Gabi Coiradas

Eu nunca gostei de montanha-russa.

Sempre foi a razão do meu terror em parques de diversões, quando passava horas mirabolando uma desculpa para os meus amigos: eu me machuco, eu não me sinto bem, não curto a sensação, sou muito pequena… mas a verdade é que eu sempre tive um medo quase irracional da velocidade com que os paradigmas mudavam, ora em cima, ora embaixo, eu mal conseguia saber onde estava em questão de segundos. E isso me incomodava.

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Agora, já depois dos 30, eu percebi que existe algo equivalente ao meu pesadelo: as pessoas que são montanhas-russas emocionais. Instáveis, imprevisíveis, a cada contato eu sinto como se estivesse baixando a trava de segurança. Quando eu estou lá, depois da primeira grande subida, crendo que eu faço alguma diferença na vida de alguém, vem a primeira descida, que chega a tirar o nosso fôlego, dias de mensagens ignoradas sem razão alguma, afinal, a descida está ali, não é necessária uma provocação em si. Recuperação, mais uma subida, você doa o que tem na sua alma e pronto, lá vamos nós com giros de indiferença em 360 graus.

Não sirvo para isso.

Não é que eu não goste de emoções e surpresas, pelo contrário, eu gosto demais. Mas o frio na barriga que eu sempre desejo, e aprecio cada minuto de sua duração, é o de adrenalina, não o de medo de perder para sempre. Gosto muito de ter o meu mundo sacudido e estruturas abaladas, mas eu prefiro não ir batendo o queixo no carrinho e perder os dentes, como acontece nas montanhas-russas com gente azarada feito eu.

Eu ando na roda gigante, que sobe e desce, mas eu não tenho medo, porque a companhia está me abraçando e sorrindo nas variáveis. Ambos estão lidando com os altos e baixos juntos, lentamente.

Quando os meus dedos levam mais de dois deslizes para encontrar a conversa no Whatsapp, é melhor descer do carrinho, afinal, é perfeitamente possível olhar a montanha-russa de novo, de longe, e perceber que tudo está lá e que a escolha é sua.

Desculpa, eu acho que a trava está me machucando, imagina se eu voar daqui, não é mesmo?  Ei, pessoal, vamos tomar um sorvete?

Sobre o autor

Gabi Coiradas

Alguém que não sabe escrever bios otimistas, mas que acaba tentando só para não ser xingada.
Formada em Letras, sonha em ser lida, mas tem suas dúvidas se tem algo a dizer. Sua alma é San Diego.
Bellydancer sempre no básico e fotógrafa sem equipamento, é isso mesmo que dá pra imaginar: uma baita de uma salada cultural