Eu nunca gostei de montanha-russa.
Sempre foi a razão do meu terror em parques de diversões, quando passava horas mirabolando uma desculpa para os meus amigos: eu me machuco, eu não me sinto bem, não curto a sensação, sou muito pequena… mas a verdade é que eu sempre tive um medo quase irracional da velocidade com que os paradigmas mudavam, ora em cima, ora embaixo, eu mal conseguia saber onde estava em questão de segundos. E isso me incomodava.
Agora, já depois dos 30, eu percebi que existe algo equivalente ao meu pesadelo: as pessoas que são montanhas-russas emocionais. Instáveis, imprevisíveis, a cada contato eu sinto como se estivesse baixando a trava de segurança. Quando eu estou lá, depois da primeira grande subida, crendo que eu faço alguma diferença na vida de alguém, vem a primeira descida, que chega a tirar o nosso fôlego, dias de mensagens ignoradas sem razão alguma, afinal, a descida está ali, não é necessária uma provocação em si. Recuperação, mais uma subida, você doa o que tem na sua alma e pronto, lá vamos nós com giros de indiferença em 360 graus.
Não sirvo para isso.
Não é que eu não goste de emoções e surpresas, pelo contrário, eu gosto demais. Mas o frio na barriga que eu sempre desejo, e aprecio cada minuto de sua duração, é o de adrenalina, não o de medo de perder para sempre. Gosto muito de ter o meu mundo sacudido e estruturas abaladas, mas eu prefiro não ir batendo o queixo no carrinho e perder os dentes, como acontece nas montanhas-russas com gente azarada feito eu.
Eu ando na roda gigante, que sobe e desce, mas eu não tenho medo, porque a companhia está me abraçando e sorrindo nas variáveis. Ambos estão lidando com os altos e baixos juntos, lentamente.
Quando os meus dedos levam mais de dois deslizes para encontrar a conversa no Whatsapp, é melhor descer do carrinho, afinal, é perfeitamente possível olhar a montanha-russa de novo, de longe, e perceber que tudo está lá e que a escolha é sua.
Desculpa, eu acho que a trava está me machucando, imagina se eu voar daqui, não é mesmo? Ei, pessoal, vamos tomar um sorvete?