Texto: Deka Pimenta
Diante do leque de talentos que a Deka Pimenta esparrama pelas redes sociais, a forma como essa mulher arranja as palavras é o que mais nos comove. Para relembrar a era blogueira – no sentido raiz da palavra – chamamos essa escritora independente e artista multifacetada para fazer parte da nossa seleção de convidados de categoria. Atualmente, Deka trabalha em seu projeto A Velha do Arco, que pode ser apoiado aqui.
Passei trinta, dos meus trinta anos e oito meses, me perguntando por que os outros sempre me faziam mal. Quase sucumbi sob o peso de todo o rancor guardado, me afoguei dentro das lágrimas engolidas. Por muito pouco, não me tornei a solitária que sempre quis ser quando era criança e me imaginava adulta.
Foi quando já começava a me desesperar por descobrir que é impossível alguém ser tão autossuficiente assim, que entendi. Precisei achar que havia encontrado todas as respostas e me decepcionar com cada uma delas, pra ver que o erro estava na pergunta.
Protegida dentro da muralha que construí, deixei tudo e todos que eu amava de fora. E lá dentro, sozinha e no escuro, não pude mais ignorar a voz infantil que sussurrava.
A voz era minha, vulnerável, frágil e machucada. Mas não perguntava o que achei que queria saber. A verdadeira pergunta era: Eu sei o que me faz bem?
E só então, trinta anos depois, eu me peguei no colo e me perdoei por não saber nada de mim.