Um grito mudo não tende a ser ouvido pelo mundo. Mesmo sabendo que meus gritos acontecem através do mais ensurdecedor dos silêncios. Sinto como se pequenas borbulhas de agonia pudessem ser propagadas.
Em minha solidão acompanhada, deixo que tudo que está longe assim permaneça, negando qualquer chance a quem possa considerar oferecer ajuda. É possível aprender a ser sozinho, mesmo que a minha natureza sempre tenha sido pouco solitária.
Me esquivo das perguntas de forma habilidosa, tenho minha culpa nosso tudo. Sei fazer do meu sorriso um artifício útil para minhas verdades mais profundas.
Mesmo quando o brilho dos meus olhos se perde e tenta me trair – até com certa frequência, admito – lá estão meus tortos dentes… Perfilados, mesmo que de maneira torta, mas carregando o cinismo que o cotidiano de um homem quase ainda jovem exige.
Talvez esse hábito seja mais uma de minhas covardias, talvez essa prática seja mais uma em minha vasta coleção de falhas e feitos. Bom, talvez só me reste isso. É possível que os últimos goles de minha insistência estejam sendo tragados desta forma.
Já me resolvi comigo mesmo. Exorcizei alguns demônios, retirei alguns esqueletos no armário. Talvez só me falte admitir a mediocridade que me rege. Abandonar projetos como quem desfaz as malas. Deixar a atenção aos considerados de lado, como se deixássemos de regar as plantas que ficarão no tempo por falta de cuidado também é possível.
Eu, que tantas vezes me vi diferente. Eu, que apesar da biblioteca de erros, quase sempre me vi tão capaz. Logo eu, que conheci tão poucos dos meus que tivessem levado porrada. Visto com tanto respeito e carinho, não parecia possível não ser o suficiente! Ainda mais sendo cercado por tanta gente de boa qualidade.
Concordar com o óbvio parece simples. A recusa em relação aos fatos parece minha última linha (burra) de defesa. Talvez tudo fosse mais fácil se um dia eu não tivesse acreditado ser alguém diferente.
Constatar esse ordinarismo pessoal me mata de modo cada vez mais literal. Ando achando um inferno ser eu. Toda metáfora tem seu espelho real.