”All you need is love”, diria uma canção dos Beatles. Eu acho que eles estavam certos.
Tenho acordado e ido dormir muito triste por esses dias. E me peguei tentando identificar o porquê. De repente, me dei conta de que não sou só eu.
Nos últimos tempos, é como se uma nuvem pesada estivesse pairando no ar. Olho para todos os lados e vejo brigas, agressões, disputas… guerras. Não são guerras com tanques, metralhadoras e bombas, e sim guerras morais e ideológicas. Mas que têm nos ferido profundamente.
Nas redes sociais ou nas ruas, nos ambientes de trabalho ou nas famílias, o clima é pesado. As discussões tornaram-se a norma vigente. Senhores e senhoras da razão vociferam seus argumentos, reafirmam, fervorosamente, seus posicionamentos – e fazem-se de surdos diante das discordâncias.
Palavras como “ódio” e “intolerância” estão todos os dias nos noticiários. Quando foi que nos tornamos pessoas tão impacientes, passivo-agressivas e irredutíveis? Quando foi que nossas convicções tornaram-se mais importantes que nossos relacionamentos? Por que nos deixamos afogar nesse mar de intransigência e ressentimentos?
Eu tenho tentado, para desatar esse nó na minha cabeça – que também está na garganta -, praticar um pouco a empatia. Palavrinha bonita esta, super na moda, mas muito pouco praticada de fato.
Tenho buscado entender por que as pessoas estão agindo e reagindo assim. Tenho a sensação de que estamos regredindo irrefreavelmente. E por que, agora, esses instintos tão primitivos estão vindo à tona?
Longe de mim querer bancar a psicóloga de almanaque. Mas tenho a nítida sensação de que as pessoas estão tão na defensiva, se sentindo frágeis e desprotegidas, desamparadas e desalentadas, que tudo e todos viraram uma ameaça.
Qualquer discordância virou ofensa pessoal. Qualquer divergência virou pecado mortal. Estamos adoecendo-nos uns aos outros. Perdemos a capacidade de ser compreensivos e de praticar o perdão. Blindamo-nos num domo de fúria insana.
Já não vemos mais as pessoas como nossas semelhantes, e sim como nossos oponentes. Competimos com o vizinho pelo direito de ouvir o som mais alto. Disputamos qualquer milímetro no trânsito, como se os outros motoristas fossem nossos inimigos. Desconfiamos dos colegas de trabalho, como se eles fossem nossos rivais. Ofendemos nossos familiares, como se eles não fossem merecedores de um pouco de nossa paciência e benevolência. Como se o mundo não fosse de todos.
Acho que, no fundo, estamos todos reprimidos, oprimidos e deprimidos. E não sei até quando vamos poder suportar todo esse tensionamento. Pior ainda: não sei se sobreviveremos, como sociedade, como pessoas que dependem umas das outras – muito mais do que gostamos de admitir. A minha impressão é que estamos vivendo uma epidemia de solidão.
Quem sabe, quando toda essa poeira baixar, a gente perceba que, unidos, teríamos sido mais fortes e mais felizes. Tomara que não nos demos conta disso tarde demais.
“Together we stand. Divided we fall.” (Pink Floyd – Hey you)