Esta semana, tive um mal estar e precisei tomar um remédio em gotas. Fiz careta, pois remédio em gotas é sempre ruim para diabo. Na hora, me lembrei de um dia em que precisamos dar remédio para o meu sobrinho de quatro anos, e tivemos que estar em três adultos para segurá-lo. Ele simplesmente berrava e esperneava, não queria tomar de jeito nenhum. Mas ele é criança, e ainda não entende que às vezes é preciso suportar um remédio amargo para obter uma posterior melhora.
Esta cena me levou a refletir sobre o quanto as crianças são espontâneas e transparentes em suas reações. Se elas sentem dor, elas choram. Se elas estão irritadas, elas gritam. Se estão com sono, ficam mal humoradas e não disfarçam isso. Criança sempre reage mal a alguma sensação ruim.
Mas será que reagir com verdade é realmente reagir mal? Supostamente, nós, adultos, temos “controle” das nossas emoções e sabemos sentir dor, sono e o gosto amargo de um remédio sem espernear. E fazemos isso pois, em tese, recebemos educação e aprendemos a nos comportar na sociedade.
E aonde essa nossa capacidade de disfarçar os dissabores da vida nos leva?
Eu nunca choro em público, por exemplo. Na última crise de pânico que tive, não aceitei ajuda de ninguém no trabalho. Saí correndo, suando frio, respirando fundo, e só quando eu deitei na cama em casa eu realmente deixei sair todo o choro acumulado, e chorei por um bom tempo até me aliviar e conseguir parar de tremer.
A cada dia que passa, vejo mais pessoas sofrendo sozinhas como eu. Sofrendo com ansiedade, depressão, pânico, pensamentos suicidas e uma série de outras mazelas que parecem ser o mal dos nossos tempos.
Aonde vamos parar desse jeito? Estamos doentes e não nos damos o direito de faltar no trabalho, porque estamos com o soro na veia pensando no job com o deadline estourando.
Às vezes, eu acho que não deveríamos nos acostumar tanto com o amargo da vida e, só de vez em quando, espernear um pouco, como o meu sobrinho tomando remédio.