Divã-neando

O tempo: mocinho, vilão, e maestro

Escrito por Leitor / Leitora

Uma reflexão sobre o tempo, esse mocinho que nos faz experiente, esse vilão que nos rouba as forças, e esse maestro que rege a sinfonia da vida.

Texto enviado pelo leitor Emmanuel Rosa

Ao esbarrar por aí com o seu eu mais novo, seu aperto de mão de cavalheiro não vai encaixar com o toca-aqui juvenil, assim como a conversa não fluirá como deveria. Você mais velho tentará dizer que determinadas escolhas suas foram erradas, o que só vai fazer os olhos do seu eu mais novo brilharem de excitação pelo desconhecido, que parece interessantíssimo.

Ao se despedir, você vai perceber que o momento da mudança da bermuda e camiseta para o terno feito sob medida se perdeu, devido ao passar dele: o mocinho e vilão. Ah, esse mocinho, sempre o fazendo mais experiente, mais culto e inteligente, enquanto esse vilão vai roubando sua força, sua capacidade, sua coragem.

Esses dois ainda travarão épicas batalhas pela mão da mocinha, que claro, bimetaforicamente, é você. Tudo que posso fazer, então, é ajudá-los: não se esqueça jamais dessa peleja, pois sua atenção é de fundamental importância para o mocinho! Sempre que você se deixar abater pelas situações, o vilão virá roubá-lo.

Mocinho, vilão, e maestro.

Maestro de uma orquestra de desejos sopranos, vontades tenores, ideias contraltos e sonhos baixos. Sonhos baixos somente na voz, porque desde a época da bermuda e camiseta já voavam muito alto, brigando por qual ficaria em destaque e seria abraçado por você.

Quem é esse maestro? O nome dele, que tenta porque tenta manter as harmonias de sua jornada, é imutável e repleto de misticismo. Disseram que ia parar de balançar sua batuta, disseram que vai parar de balançar sua batuta. Por enquanto, ele nem olha pra trás, não quer saber de quem o acompanha, faz o que foi chamado para fazer.

_ Oh, tempo querido e odiado, você já viu tantas coisas. Já presenciou flores e cogumelos desabrochando, sente o cheiro de nascimento e da morte… como pode, mesmo assim, acompanhar humildemente a vida com teu andar metódico e relativístico? Por que não regride, por que não avança, por que não para?

Antes de fazer essas perguntas para o Sr. Tempo – ainda não somos amigos, não o compreendo tampouco – pergunto a mim: será que elas têm resposta?

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Leitor / Leitora