Às vezes, eu não quero ser eu. Quero ser outra.
Quero ser aquela mulher livre, que pisa firme e sabe que há muito tempo já não precisa de quem a proteja.
Quero ser uma mulher em um corpo que carrega a marca do tempo com beleza, que gosta do que vê quando se depara com seu reflexo.
Quero ser uma dominatrix, e quero castigar quem se submeter às minhas ordens e aos meus fetiches.
Quero ser uma devassidão que prende suas vítimas com uma chave de coxas.
Quero ser aquele doce com uma calda brilhante que escorre à sua volta, e implora para ser saboreado.
Quero ser um anjo ou um demônio. Quero dizer todos os nãos sem me sentir decepcionante. Dizer todos os sins sem me sentir culpada.
Ser o que os outros pensam. Ser o que eu fantasio ser. Uma máscara comedida que cobre uma caveira em brasas.
Às vezes, eu não quero ser eu. Quero ser outra.
Porque, no fundo, a gente nunca é o que parece ser. A gente é sempre muito mais coisas.