Divã-neando

Outra

Escrito por Rose Carreiro

Às vezes, eu quero ser outra.
Ser qualquer uma além de mim.

Às vezes, eu não quero ser eu. Quero ser outra.

Quero ser aquela mulher livre, que pisa firme e sabe que há muito tempo já não precisa de quem a proteja.
Quero ser uma mulher em um corpo que carrega a marca do tempo com beleza, que gosta do que vê quando se depara com seu reflexo

Quero ser uma dominatrix, e quero castigar quem se submeter às minhas ordens e aos meus fetiches.
Quero ser uma devassidão que prende suas vítimas com uma chave de coxas.
Quero ser aquele doce com uma calda brilhante que escorre à sua volta, e implora para ser saboreado.

Quero ser um anjo ou um demônio. Quero dizer todos os nãos sem me sentir decepcionante. Dizer todos os sins sem me sentir culpada. 
Ser o que os outros pensam. Ser o que eu fantasio ser. Uma máscara comedida que cobre uma caveira em brasas. 

Às vezes, eu não quero ser eu. Quero ser outra.
Porque, no fundo, a gente nunca é o que parece ser. A gente é sempre muito mais coisas.

Sobre o autor

Rose Carreiro

Nascida num 20 de Outubro dos anos 80. Naturalmente petropolitana, com passaporte carioca. Flamenguista pé frio e expert em não se aprofundar em regras esportivas. Fã de Verissimo – o Luis Fernando – e Nelson, o Rodrigues (apesar de tudo). Poser. Pole dancer com as melhores técnicas para ganhar hematomas. Amadora no ofício de cozinhar e fazer encenações cômicas baratas. Profissional na arte de cair nos bueiros da Lei de Murphy.

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