Uma das coisas que eu mais admiro em algumas pessoas é a capacidade de viver com simplicidade. Vejam bem: não estou falando de voto de pobreza, nem de um falso minimalismo ou de militância fake pelo desapego. Falo de pessoas genuinamente simples.
Ao longo da minha vida, eu tive a oportunidade de conhecer algumas pessoas verdadeiramente simples. Algumas delas, para a minha sorte, da minha própria família. Outras, gratas surpresas com que a vida me presenteia de vez em quando.
Minha avó era uma pessoa simples. Me lembro até hoje de como ela era autenticamente feliz com coisas simples. Cuidar de suas plantinhas. Passear com os netos. Alimentar seus cachorros. Ir à igreja fazer suas orações. Ela teve uma vida muito difícil, e em sua velhice eram essas pequenas coisas que a faziam feliz. Ela valorizava os momentos com as pessoas que amava, e não as coisas.
Neste fim de semana, tive a oportunidade de ouvir a fala de um senhor de 64 anos que fez uma expedição de bicicleta pelo interior do Paraguai para resgatar suas origens e escrever um livro. Uma expedição de reencontro com sua história, buscando os rincões mais esquecidos de nosso país vizinho. A emoção – e a simplicidade – com que ele contou sua jornada tocou a todos os presentes. Uma verdadeira lição de humildade e senso de propósito.
Em diversas oportunidades de minha carreira como jornalista, tive o privilégio de conhecer muitas outras pessoas que me marcaram com sua simplicidade. Algumas dessas pessoas tinham nome, títulos, dinheiro. Mas ser simples é algo intrínseco à essência de algumas pessoas, e não tem relação com suas posses ou status.
Por outro lado, também já testemunhei muita gente que, num dado momento da vida, deixou de ser simples. É um processo triste de se assistir, como se algo na alma da pessoa tivesse se quebrado, como se ela se tornasse uma casca oca. E, infortunadamente, parece ser um processo irreversível.
Um dos meus maiores medos na vida é me deixar levar por luxos, bens, aparências ou arrogâncias, e perder a simplicidade que, acredito eu, nos é inata – e a qual às vezes se dissipa com o passar dos anos. Espero conseguir conservar a habilidade de ser feliz com as pequenas coisas: o prazer de saborear um café quentinho numa manhã gelada de inverno; a alegria em ser recepcionada pelo meu cão quando chego em casa no fim do dia; o contentamento em passar algumas horas com meu sobrinho e descobrir o que ele aprendeu de novo naquele dia; contemplar o pôr-do-sol numa tarde qualquer.
Em tempos de consumismo desenfreado, ostentação, status medido por número de likes nas redes sociais, manter-se simples é um desafio. Manter o foco no que é realmente importante e fundamental, sem nos deixar distrair com as tentações das futilidades, parece ser a utopia do século. O segredo para atingir este ideal, eu não conheço, mas sei de um bom caminho: preste atenção no que realmente toca sua alma, e diferencie do que apenas satisfaz o seu ego. A fórmula pode estar por aí.