Dia desses, me peguei tentando me lembrar quando foi que eu deixei de acreditar em mim mesma.
Eu sempre fui uma pessoa autoconfiante. Pelo menos em alguns aspectos da vida. Desde pequena, eu sempre fui estudiosa, e ia bem na escola. Isso não foi um problema para mim, nem mesmo quando tive de pular um ano no prezinho e acabei ficando adiantada, estudando com crianças mais velhas que eu.
Lá pela sexta série, eu já tinha uma clareza de qual carreira gostaria de seguir, e me matriculei na faculdade sem nenhuma dúvida de que aquele seria meu caminho.
Fiz estágios, trabalhos voluntários, me metia em tudo que era evento aleatório, apenas na ânsia de aprender. Tinha sede do mundo, sede de conhecimento, pressa de avançar. Tinha um brilho no olhar que parecia difícil de apagar.
Ao me formar, rapidamente consegui empregos, sempre fui bem recomendada pelos ex-chefes, e sempre fui adiante de cabeça erguida.
Olhando hoje, é muito nítido o quanto eu seguia em frente sem hesitar, o quanto eu tinha certeza de cada passo que dava. Talvez, fosse só imaturidade juvenil, aquela pseudoarrogância típica de quem não viveu muito ainda, aquela ingenuidade que chega a ser bonita. Talvez.
Com o passar dos anos, eu sempre continuei perseguindo o conhecimento, as experiências, o crescimento. Sempre segui estudando, me dedicando, dando o meu melhor.
Mas, em algum momento, isso mudou. Hoje me olho no espelho e não sei mais quem sou. E percebo que não é uma crise com a minha profissão especificamente, é comigo mesma. Aquela autoconfiança, aquela segurança, aquela ousadia, tudo sumiu. Hoje me sinto incapaz, obsoleta, perdida e irrelevante.
Em que momento eu deixei de acreditar em mim? Em que momento meu espírito foi quebrado dessa maneira? Eu sinceramente não sei responder. Não sei se foi um acúmulo de experiências negativas com o passar dos anos, ou se foi alguma situação pontual, mas sinto que algo em mim morreu; o combustível que alimentava esse fogo acabou.
Alguma parte fundamental do meu ser, algum elemento estrutural que me sustentava, ruiu. Como uma coluna de sustentação de um prédio derrubada por engano, sinto que algum dos meus pilares cedeu. Talvez seja o que as pessoas chamam de crise existencial, crise de meia idade, crise dos 30 (e poucos), ou talvez alguma outra ainda não nominada.
Mas, a sensação é a de ter sido completamente dominada pela síndrome da impostora, de ter sucumbido a ela, de ter perdido a vontade de provar que quem duvida de mim está errado. Hoje, eu duvido e faço coro com essas pessoas.
Sei que parece um tanto triste usar este espaço para um desabafo assim, tão pessoal, mas tendo a acreditar que não sou a única. Acredito que mais gente por aí se identifique com esse sentimento – e quem sabe alguém possa me contar como a gente se livra dele?
Obrigado pelos textos.
Usarei sua Crônica sobre a solidão crônica em uma aula sobre Edward Hopper para alunos do 9o ano.
Uau! Muito obrigada! Fico imensamente feliz em saber!
Às vezes, a gente dá uma desanimada, mas aí vem um comentário desses e renova nosso ânimo em continuar escrevendo!