Outro dia, estava dirigindo sob uma tempestade horrível para ajudar alguns amigos que estavam em apuros. Logo que saí de casa, ainda no meu bairro, peguei um alagamento que pensei que o meu carro não fosse ter potência para conseguir sair. Depois, ao longo do trajeto, fui testemunhando a destruição que é costumeira em Foz do Iguaçu quando tem tempestade. Fora os diversos outros pontos de alagamento, árvores tombadas e a cidade inteira sem luz ajudaram a compor o cenário quase apocalíptico.
Para me acalmar enquanto eu dirigia, a tática que nunca falha: música. Modo aleatório e, de repente, eis que a playlist me presenteia com nosso eterno Raul, cantando Medo da Chuva.
“Eu perdi o meu medo, meu medo, meu medo da chuva“, dizia ele, enquanto eu observava aquela quantidade torrencial de água caindo e sendo completamente implacável com os limpadores de para-brisa.
Eu, a bem da verdade, sempre gostei da chuva e – por mais estranho que pareça – da melancolia que ela traz. Mas a chuva, na forma figurativa como Raul abordava, era outra coisa. Era a coragem de se arriscar. De se libertar de algum tipo de prisão de uma vida que não nos faz feliz. De sair de um relacionamento que já acabou, mas que ainda segura as partes por pura convenção social. Ou por medo.
Eu já tive medo da chuva. Não do fenômeno meteorológico, mas da chuva cantada por Raul. Durante muito tempo, eu fui uma das pedras que choram sozinhas no mesmo lugar.
Eu acreditei que tinha que amar a mesma pessoa para sempre, e me senti culpada quando não amei mais. É… Tal qual o personagem da música, quando jurei meu amor eu traí a mim mesma. A arte imita a vida, não é? Ou seria o contrário?
O importante é que, hoje, eu não tenho mais medo da chuva – nem da verdadeira ou da metafórica – e sei que ninguém nesse mundo é feliz tendo amado uma vez.