Relatório de Evidências

Um mal (ou bem) necessário

Escrito por Patrícia Librenz

Aquele momento fatídico em que você tem que deixar o sedentarismo de lado e encarar a academia (de novo). Quem nunca?

Eu gostaria muito de ser esse tipo de pessoa que acorda super cedo, toma um café da manhã nutritivo e equilibrado e começa o dia na academia, porque assim “sente-se mais disposta”. Entretanto, eu sou outro tipo de gente: aquele que só consegue sair da academia com vontade de morrer.

Queria entender como é possível alguém sair animado de casa pra ir treinar malhar antes mesmo de ir trabalhar. Eu mal tenho disposição para entrar no trabalho às 10h da manhã – até já alterei o meu horário de expediente por causa desse delay do meu relógio biológico.

Além de eu sentir uma satisfação em contemplar a preguiça, eu realmente não gosto de academia: não gosto de puxar ferro, não gosto de esteira, bicicleta ergométrica, elíptico… não gosto do ambiente, e também não gosto das músicas que tocam lá. Aí, algumas pessoas dizem: “Mas depois que você acostuma, você passa a gostar e, quando para, seu corpo sente até falta…”.

Ah, o meu corpo não sente falta, não! Eu seria capaz de viver uma vida plena e feliz sem fazer nenhum esforço físico, se isso não me deixasse doente e não deformasse meu corpo. Eu não teria nenhuma dificuldade em passar horas do meu dia fazendo absolutamente NADA.

E olha que eu até gosto de certas atividades físicas… gosto de andar de bicicleta (ao ar livre), adoro patinação… amo nadar. Mas não consigo manter a constância nessas atividades devido a alterações climáticas. E, infelizmente, a satisfação que essa bomba chamada sedentarismo me proporciona é inenarrável. Como eu gosto de ser sedentária!

Evidente que ser uma pessoa ativa é sensacional (já fui; então, lembro-me vagamente da sensação) e só faz bem à saúde, mas ser sedentário é tão perigosamente prazeroso quanto comer bolo de cenoura com cobertura de chocolate todos os dias no lanche da tarde. Você pode até gostar de ser uma pessoa fitness, comer frutas e verduras (até eu gosto), mas vamos combinar que nada como o sabor da comida proibida, né? Eu sou exatamente assim em relação ao sedentarismo. Sei que não deveria, mas adoro.

Acontece que, como não tenho mais idade para ficar vivendo perigosamente, eu me obriguei a sair desse ciclo delicioso vicioso. Sei que não vou mudar minha opinião sobre academias, mas resolvi encarar a coisa de um jeito mais prático e menos romântico. Claro que, se o exercício que eu fizesse me proporcionasse prazer, seria mil vezes melhor e mais fácil, porque isso me manteria motivada… mas, como não é esse o caso, o jeito é ir sem vontade mesmo.

Decidi que incluir atividade física na rotina tem que ser uma obrigação e uma prioridade na minha vida, tal qual acontece com o trabalho. Eu também sofro para sair da cama todas as manhãs e vou me arrastando até o escritório – e olha que eu gosto do meu trabalho, hein! -, mas, mesmo assim, eu não deixo de fazer isso todos os dias. Então, fica o questionamento: por que eu faço isso pelo trabalho, mas não sou capaz de fazer o mesmo por mim?

Foi pensando nisso que fui a uma academia que fica exatamente no caminho entre a minha casa e o trabalho e me matriculei no plano anual! Sei que é uma atitude ousada e arriscada (principalmente para quem não gosta de frequentar academia), mas eu percebi que, se não fizesse nada, continuaria levando uma vida sedentária, até que alguma artéria minha explodisse…

Então, que o Deus Fitness, a Nossa Senhora das Atividades Aeróbicas e o Santo do Antissedentarismo me deem forças, porque vou precisar – mas só no final do dia, por favor! Acordar mais cedo pra isso já é querer demais…

Sobre o autor

Patrícia Librenz

Mãe de dois gatos, um autista e outro que pensa que é cachorro. Casou com um veterinário, na esperança de um dia terem uns 837 animais. Gaúcha no sotaque, pero no mucho nos costumes. Radicada em Foz do Iguaçu desde 2008, já fez mais de 30 mudanças na vida. Revisora de textos compulsiva, apaixonada por dicionários. A louca do vermelho. A chata que não gosta de cerveja. A esquisita que não assiste a séries. Dona da gargalhada mais escandalosa do Sul do Mundo. Mestra em Literatura Comparada, é fã de Machado e Borges, mas ignorante de Clarice Lispector e intolerante a Paulo Coelho. Não necessariamente nessa ordem.