Eu amo idiomas. Se pudesse, aprenderia todos. Comecei, como quase todo mundo, pelo inglês, mas o segundo que eu decidi estudar pode ser considerada uma escolha incomum: o alemão. Na época, havia uma história de que a economia da Alemanha estava crescendo, e, em breve, o alemão substituiria o inglês como língua universal. Embora esse não tenha sido o motivo pelo qual eu decidi aprender alemão, contribuiu para que bons cursos e professores estivessem disponíveis – já que as turmas eram sempre cheias – e, na minha opinião profissional, um bom material e um bom professor são imprescindíveis para aprender qualquer idioma.
Pois bem, o alemão não substituiu o inglês, e eu acredito que nenhum idioma jamais substituirá, por um motivo muito simples: o inglês é fácil. Ok, a pronúncia é complicada, mas o inglês, por exemplo, mal tem conjugação de verbo, não tem concordância de gênero, tem um único artigo definido, dentre outras facilidades que outras línguas não têm. O alemão, por exemplo, além de conjugação verbal igualzinho ao português (com os finais dos verbos mudando para cada tempo em seis pessoas diferentes), ainda tem três gêneros (masculino, feminino e neutro) e uma coisa chamada caso (acusativo, dativo e genitivo) que muda as terminações das palavras. Ah, sim, e ainda tem aquelas palavras enormes que nós adoramos zoar.
Vejam bem, eu sou 100% a favor de zoar o idioma alemão, porque é engraçado mesmo. Mas hoje meu intuito é defendê-lo e dizer que aquelas palavras não estão ali por acaso. Pra começar, nem toda palavra do alemao é enorme; algumas, como Hund (cachorro), danke (obrigado), lecker (delicioso), schön (bonito), prima (fantástico) e Bier (cerveja) são até mais curtas que suas equivalentes em português. Além disso, nem toda palavra gigante é exatamente uma palavra só. O que acontece é que, em alemão, as palavras compostas são escritas tudo junto, ao invés de separadamente.
Por exemplo, a gente diz “relógio despertador”, os alemães dizem Weckerklingeln. Em português, “caixa de fósforos”, em alemão, Streichholzschächtel. Nossa “máquina de lavar louça”, na Alemanha, é a Geschirrspülmaschine. E a “apólice de seguros”, segurem-se nas cadeiras, é uma Rechtsschutzversicherungsgesellschaften. Se cada palavra tivesse um espaço depois, ninguém acharia tão esquisito.
Mas ainda acharia esquisito, porque o alemão ainda tem outra característica: ele odeia radicais gregos e latinos. Toda palavra que contém componentes nessas duas línguas acaba sendo “traduzida” para o alemão, o que faz com que ela soe bem diferente de outros idiomas. Por exemplo, “caneta”, em alemão é Kugelschreiber, que, traduzindo ao pé da letra, seria “escrever com uma esfera” – que nem o termo “esferográfica”, que não é tão estranho assim para nós. Vocês devem ter aprendido em algum momento que “hipopótamo” significa “cavalo do rio”, então em alemão ele é o Flusspferd, já que Fluss é “rio” e Pferd é “cavalo”. O mesmo acontece com o rinoceronte, que em alemão se chama Nashorn, o “chifre no nariz”.
Isso acabou “respingando” até mesmo em palavras que não têm radicais gregos ou latinos, mas que foram formadas através de palavras estrangeiras. “Hospital”, em alemão, por exemplo, é Krankenhaus, sendo que krank significa “doente” e Haus é a casa, então o hospital é a “casa dos doentes”. Schaft significa “eixo”, wissen significa “conhecimento”, e natur é “natural”, então, Naturwissenschaft, o “eixo do conhecimento natural”, nada mais é do que a nossa “ciência”. Tudo faz mais sentido quando a gente sabe a explicação.
Portanto, vocês podem continuar zoando o alemão, mas agora mais instruídos. Só prestem atenção, porém, em uma coisa: ao contrário do que todo mundo pensa, o alemão não é um idioma “agressivo”; sua entonação ao falar não é diferente daquela usada em português ou inglês. Falar alemão como se estivesse com raiva do mundo pode deixar as palavras mais engraçadas, mas os alemães veem isso como desrespeitoso e até preconceituoso. Falar com um alemão rosnando e cuspindo pra cima dele é receita certa para acabar com qualquer brincadeira.
Muit,muitoo , bom teus comentários. Quero aprender alemão
com vc.
Obrigado, Roseni, mas infelizmente no momento não estou lecionando alemão 🙂