Licença Poética

Drag-se

Escrito por Convidado (a)

Quem tem a arte correndo nas veias, mais cedo ou mais tarde, encontra sua vocação. A da Gabi é a arte drag, e ela conta como isso transformou a vida dela.

Texto: Gabi Coiradas

A Gabi fez parte da primeira geração dos crônicos, com seus maravilhosos textos e sua sensibilidade sem igual. E foi por isso que ela foi nossa convidada de honra para esta semana. Mas, foi na arte drag que ela se encontrou, encarnando o Pietro Lamarca, que seduz e arrasa com sotaque castelhano nas noites curitibanas.

É difícil virar uma chave, principalmente quando ela parece antiga, emperrada por ferrugem que não estaria acumulada se fizéssemos uma manutenção periódica. Mas, preguiçosa que sou, busquei um caminho para lidar com essa situação, um caminho transformador… e transformista.

Parece estranho usar essa palavra, que soa como se saísse da boca do Sílvio Santos em um show de calouros, mas é isso que a arte drag é. E nela eu encontrei toda a liberdade que procurei em todos os anos que não me achava apta a fazer coisa alguma.

Performar masculinidades, que é o caso do Drag King, está muito distante de só vestir roupas designadas como “de homem” e colar uns pelos na cara. Há estudo, pesquisa, crítica, deboche, transgressão, ato político. É tudo que enriquece nossas performances, podemos enaltecer os homens que admiramos, debochar do machismo institucional e tirar sarro de padrões.

Drag está além de gênero e sexualidade, não existe uma conexão entre arte e o que você é, mas, como eu, você pode usar a arte para expressar parte disso ou do que deseja ser.

Ser reconhecida e me reconhecer como artista foi vital para que eu recuperasse o meu desejo de viver, tivesse uma motivação fora da minha rotina. Eu passei a não me considerar incapaz e a produzir autoconhecimento em níveis que eu jamais pensei que chegaria. Um alter ego tem um poder enorme sobre a nossa saúde mental.

Arte é liberdade, é plenitude.
Seja o que quiser.
Drag-se.

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Convidado (a)

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