Amor é prosa

12 de junho é só um dia, para quem só vive ele

Escrito por Brunno Lopez

A maneira como a construção de um relacionamento é abordada hoje dá a impressão de que os cupidos seguram fuzis em vez de flechas. Qualquer tentativa de ‘soar agradável fora de época’ é automaticamente identificada como uma forma de compensar um erro ainda não descoberto pela outra pessoa da relação. Talvez por isso tantos casais sigam roteiros programados por toda a vida útil de seus romances.

person-couple-love-romanticOs melhores dias da sua vida não têm datas especiais. Não respeitam comemorações pré-fabricadas. Não acontecem na sincronia dos protocolos que vemos nas comédias românticas.

Hoje é 12 pra alguém, mas você foi feliz em outro número, em outro mês, em outro calendário, em outro momento que não pôde ser eternizado comercialmente.

Não foi um anúncio de desconto para um jantar sofisticado que fez você ter o apetite de procurar uma companhia, tampouco o inverno pretensioso que lhe obrigou a se vestir de braços irresistíveis para servirem de moletom.

A maneira como a construção de um relacionamento é abordada hoje dá a impressão de que os cupidos seguram fuzis em vez de flechas. Qualquer tentativa de ‘soar agradável fora de época’ é automaticamente identificada como uma forma de compensar um erro ainda não descoberto pela outra pessoa da relação. Talvez por isso tantos casais sigam roteiros programados por toda a vida útil de seus romances.Duvido que Cleópatra e Júlio César fizessem questão de interromper alguma de suas batalhas épicas para obedecer um calendário aparentemente cardiovascular.

A intensidade do que eles compartilhavam juntos era de proporções muito maiores que qualquer status de relacionamento que se atualiza nos dias de hoje. Sherlock Holmes nunca pegaria um caso em que o amor fosse o único suspeito.

Quando se tem conhecimento do que é realmente uma questão de sobrevivência, os sentimentos são encarados com uma maturidade capaz de ignorar quaisquer ‘interferências externas de comércio’ e criar um próprio mapa de confraternizações a ponto de elevar os envolvidos ao nível de verdadeiras divindades.

Acho que todos que se comprometem a entrelaçar os dedos, compartilhar beijos, amassar lençóis, catalogar orgasmos, abraçar novos sonhos, eternizar domingos, gravar nomes em alianças, pular sem paraquedas no precipício, descer as cataratas num barril, plantar uma árvore com raízes de adamantium, acordar em sábados de chuva para comprar o café da manhã, têm a obrigação de serem históricos.

É 12 de junho, mas cada um que seja apaixonado e empenhado pelo seu relacionamento sabe que é preciso muito mais do que vinte e quatro horas para se comemorar.

E não existem dias, não existem razões, não existem motivos. Existem pessoas.

Sobre o autor

Brunno Lopez

Um ilustrador de palavras que é a favor de tudo que é do contra. Um publicitário que não faz propaganda.
Um otimista aposentado que dá um tapa nas costas da vida enquanto o resto do mundo a empurra existência abaixo.
Um compositor de letras cotidianas sob um violão desafinado.
Um desenhista de verbetes que tem muitas certezas sobre as próprias dúvidas e acredita que o amor não passa de um tapete mágico que sobrevoa as misérias humanas.