Alguém chegou sacudindo toda a sua confiança como se fosse uma foto polaroid. Excluiu a barra de favoritos de uma vida toda e enfeitou seus cabelos com pontos de interrogação. Colocou os sonhos no playground do prédio e deixou os mais fervorosos brincando sozinhos. Abriu uma rachadura em sua armadura e lhe apresentou todo o caos que a vulnerabilidade pode produzir.
Se fosse um cultivador de memórias, quase me lembraria dos seus movimentos em itálico, procurando um abrigo oportunista em algum dos meus oceanos de insegurança. Porém, esquecer é o verbo que está em negrito nos discursos atuais. Nem sua voz em Caps Lock poderia despertar o que adora dormir até tarde.
Alguém avança pelas pastas abrindo todos os seus arquivos sem a preocupação de executar o antivírus. Dois cliques no ícone vermelho-sangue que fica do lado esquerdo do peito e seu HD nunca mais teve espaço pra outro programa.
Alguém adicionou baladas. Incluiu manias. Inventou passatempos. Adotou um cão.
Tudo tão perfeito quanto o pretérito. Quem não adoraria conjugar?
Alguém não escreveu cartas mas fez origamis com todas as que você ainda guardava. Felizmente nunca assinava. Sempre acreditei que a assinatura estava no estilo de escrever. Provavelmente reconheceria em qualquer lugar. Identidade emocional.
Alguém.
Antes todos somos alguém.
Depois nos dão nomes e expectativas. Apelidos e idealizações.
Depois alguém vira ninguém.
Ou vira “Eu aceito”.
Onde você está?
No coração ou no quarto de alguém?
Na cabeça ou na certidão de casamento?
Foto: Lady Don