Passaram-se 4 meses. Devo dizer que, de certo modo, eles voaram. Mais importante do que qualquer coisa, estou feliz com a troca. Plenamente? Não! Mas eu aprendi a ser menos paranoico nessa minha tal busca pelo pleno.
Depois de tantos dias, depois de tanto atraso e de planos meio acelerados, cheguei aqui quando já duvidava de minha própria vinda. Cheguei no dia da mentira, mas tudo foi verdade.
Deixei pra trás o que já não aguentava mais no lugar que sempre vou chamar de meu. Admiti que me tornei amador demais pra uma cidade que não é para amadores, preferi amar de longe. Mas não deixei só o que não queria mais. Ficaram lá os amigos, a família, o conforto de saber me movimentar por toda a cidade, as lembranças e toda uma história. Quase toda a minha história.
Troquei a cerva gelada na esquina pela bera artesanal em um bar, pub ou cervejaria… ou por feirinhas e festivais! A educação carregada de formalidade e distância substituiu o sorriso fácil. Perdi um beijo ao cumprimentar cada pessoa e vi os abraços ficarem mais raros. Troquei a praia de quase nunca pelos parques de vez em quando, o calor pelo frio, o bronzeado pelo branco parede, o caos pela tranquilidade, o coé pelo daí. Mas conto a vocês, tô bem, tô legal!
Não posso negar o desconforto que sinto por não saber me movimentar bem pela cidade, por não conhecer os caminhos, os atalhos, mas isso faz parte. A gente tenta o Waze, já que a galera não curte muito o papo e informa meio mal, rs. É claro que às vezes dá vontade de pegar a moto e passar na casa do coroa pra trocar uma ideia, ou de ligar pra um amigo e falar: tô chegando aí pra te dar um abraço! A banda não toca assim pelas bandas de cá. As relações aqui não são tantas ou tão fáceis, mas também não são tão líquidas.
Me encantei pela ordem, pela limpeza e pelo modo como as coisas aqui tendem a funcionar. Isso só não me deixa imune à saudade. Cerveja e papo descontraído depois do trabalho são momentos raros. Todo mundo aqui organiza tudo e separa muitas coisas. Separam o lixo, separam serviços e separam as relações.
Eu acho um pouco estranho entender que colega de trabalho é um lance tão distante assim, mas eu já saquei que amizade leva tempo e que vocês valorizam isso de um modo diferente.
Nem tudo está sendo fácil. A cidade me ganha a cada dia e eu respeito essas diferenças, mesmo quando elas só servem pra aumentar a saudade. Eu queria que o povo fosse mais carioca, mas talvez isso fosse cagar o funcionamento da cidade. Somos meio gafanhotos, eu entendo. O que eu não entendo é o espanto de muitos curitibanos inconformados com minha troca, lembrando das praias e do calor maravilhoso (pra quem?!) do Rio. A cidade de vocês também é linda.
O Rio segue como minha casa, mas fico feliz em já poder dizer que sinto como se Curitiba fosse o meu lugar. Curtam a sexta e o final de semana! Com praia, parque, pé sujo ou festival!