Algumas pessoas creem ter adquirido imunidade à paixão, pois ela se trata de um acontecimento que, com o passar da idade, vai tornando-se cada vez mais raro. Vamos ficando velhos, chatos, cautelosos e seletivos. Não é porque “se apaixonar é difícil” (e eu estava quase acreditando nisso), mas porque está cada vez mais complexo o caminho de duas pessoas compatíveis – ou “apaixonáveis” – serem cruzados.
Em suma, apaixonar-se é fácil, o difícil é achar alguém que tenha essa capacidade de nos encantar e nos surpreender… porque a partir do momento que você encontra A PESSOA, apaixonar-se é mera questão de tempo. A paixão sempre chega silenciosa e de sopetão. Ela se esconde em porões do inconsciente e, quando se mostra, já é uma metástase.
Já o encantamento precede a paixão e é como feitiçaria. O alvo do feitiço percebe que está levemente “dopado” e se deixa envolver passiva e progressivamente. Ao contrário da paixão, o encantamento se dá de forma totalmente consciente: ou seja, quem está encantado é perfeitamente capaz de prever um resultado catastrófico, mas escolhe viver e “pagar pra ver”. A paixão, ao contrário, exige desatenção.
Parece-me que a desatenção virou um pré-requisito para o cupido conseguir acertar o alvo. A paixão nunca acontece quando estamos preparados, quando queremos, quando estamos procurando. Geralmente a paixão ocorre quando acreditamos não ter tempo pra ela, quando temos outras prioridades e quando a estamos evitando por “não querermos um relacionamento agora”. As pessoas que repetem e que acreditam nessa premissa são os alvos preferidos.
Ao contrário da paixão, o encantamento não vem acompanhado de friozinho na barriga. Quem está envolto pelo feitiço não estava fugindo de um relacionamento, apenas não estava correndo desesperadamente atrás de um, mas, ao acreditar na probabilidade de ele ser saudável, o indivíduo abre-se para esta nova possibilidade. Paixão gera medo, dúvida e insegurança quanto ao fato de estarmos sendo ou não correspondidos. Já o encantamento não causa angústia, pois independe da reação do outro.
Mas em uma coisa paixão e encantamento são iguais: querer que aquele cheiro faça parte da sua rotina; desejar cada pedacinho daquela pessoa na sua vida; nunca querer que o instante acabe; saber que aquela despedida não foi um “adeus”, mas um “até logo”; contar os dias para que eles passem voando e a pessoa volte, a fim de reviver aquela magia.
De repente você percebe, pela enésima vez – durante poucos dias de muitas risadas e um mar de afinidades tão grande quanto aquele que, em outrora, encheu seu coração de medo e de dúvidas – que, por mais que a gente se machuque, a capacidade de se apaixonar e de se encantar nunca estarão totalmente perdidas.
De repente, quando você não tiver mais medo das afinidades, apreciará cada uma. E as diferenças, também. E então só vai desejar que ele – aquele sentimento que parecia ter ido embora com a última pessoa que te machucou – esteja voltando… E de repente, o que era encantamento vira paixão; e o que era paixão pode até virar amor.
“De repente. Não mais que de repente.”