Passado determinado ponto, ele percebeu que já não havia mais qualquer retorno possível. Tudo aquilo que havia planejado para si foi alterado. O destino não lhe deu muita chance, é bem verdade, mas ele poderia ter evitado enquanto ela lhe permitiu.
Não houve dele um só momento de reclamação, não houve da parte dela qualquer momento desonesto. A frieza dura da honestidade sempre andou junto de mãos dadas com ela.
Nem mesmo uma uma série de avisos sobre seu comportamento gelado foi capaz de impedir o que ele deixava florescer em seu peito. Teimoso, ele seguiu ignorando cada aviso, como se seu calor fosse capaz de derreter aquela encantadora geleira.
Sentindo-se como o Sol, ele pensou ser capaz de aquecer aquela que se dizia sempre inverno. Armado apenas com seu torto sorriso besta e certa vontade de provocar sorrisos, ele seguiu. Desafiando a lógica e contrariando o curso normal do tempo.
Seguiu até os dias atuais, quando não sabe se seu verão realmente faz com que o gelo derreta e a beleza que ele enxerga apareça, trazendo junto consigo um botão de amor correspondido que pode, quem sabe, florescer.
Tudo aquilo que ele havia sido planejado foi suspenso. Nem mesmo as tormentas enfrentadas permitiram abalo em tamanha vontade de prover calor, de prover amor.
Não há em sua vida qualquer certeza além da vontade de amar. A motivação não reside no desafio, não dessa vez. A ideia de ver um sorriso em flor, nas cores e sabores que uma primavera traz quando o Sol vence um inverno é o que dá sentido a tudo.
Mesmo que a próxima estação seja quente e amena, há nele a consciência de que o clima não poderá ser cobrado. Restam a fé e a esperança, resta a intransigência de quem ama com o coração todo.
Ainda que a ausência de planos para uma colheita próspera o assombre, ele segue teimando em sua rotina. Ainda que o inverno possa tentar aparecer, ele segue aquecendo e torcendo. Ele segue amando.