Mesmo sabendo que sua conquista era impossível, ele seguiu tentando. Com a inocência irresponsável de uma criança, com a teimosia inabalável e malcriada dos apaixonados. Ele decidiu, mesmo que ela o alertasse, que seguiria seu caminho tortuoso e frio, pelas terras daquele coração que sonhava habitar.
Desistiu de si, mesmo sentindo certa falta da época em que seu amor próprio era o primeiro e grande amor de sua vida. Deixara para trás toda racionalidade que conquistou no percurso que pode chamar de sua vida e se permitiu abraçar desejos impossíveis de um sonho quase irrealizável.
Sem muito sucesso, quase que como um retrato torto de sua vida, ele tentava convencer a si mesmo de que não possuía o direito de planejar um futuro. Seus sonhos residiam num futuro que, sem ela, parecia pálido e insosso. Mesmo que a falta de sabor do amanhã fosse sua grande certeza, ele sorria pela conquista do sabor de hoje.
A felicidade dela era o prato do dia, todos os dias. Quem sabe assim, enganando o tempo de pouquinho em pouquinho, fosse possível conquistar sua tão sonhada jóia. Quem sabe dessa maneira boba e doce, seu sonho irracional fizesse sentido. Ele imaginava que na doçura desse sonho, na conquista desse prato diário, em algum momento ele pudesse se lambuzar.
Grande verdade que ele nunca sofreu com tristeza, apenas certa melancolia. Ela era de arrancar sorrisos. Suspiros também, é preciso lembrar. Que suspiros!
Nas lágrimas que ele derrubava constatando a crueldade do destino, ele pedia que seu coração seguisse amando. Ela merecia cada voto, cada reza, cada beijo, cada lágrima e cada gota de suor. Nada daquilo tinha sido em vão.
Belo dia, o homem – cada dia mais menino de novo com esse sentimento – acordou disposto a mudar. Amaria mais, como já quisera em outros momentos. Até que tudo se consumisse, seu amor seria dado de todo coração e com toda doação possível.
Quem sabe caiba a ele, no futuro, um bom lugar na memória daquela moça tão machucada pela vida e tão amada por ele.