A dor invade e seca o peito, que até pouco tempo atrás era jardim florido. O ar parece mais denso e mais pesado que o habitual, quase tóxico. Até respirar é terrível, nem parece certo continuar respirando. Tudo parece inadequado, as cores se empalidecem, não apenas pelos olhos tão inchados, mas pela falta de graça.
O tempo que demora a passar, tortura. A noite passou sofrida e o dia se arrasta com o vazio imposto pela sua ausência. Nada faz muito sentido. Os cheiros e sabores se perdem, tudo parece fumaça, nada além.
Os gritos são mudos e solitários, a garganta dói pelo nó atado com força e cada momento vivido é repassado e repensado com dor e saudade. A busca por erros é inevitável, mesmo que haja a garantia de que tudo foi ótimo. Faltou cama ou carinho? Terá faltado algum pacto social invisível? A aparência não satisfez? Sem saber as respostas ou se conformar com as afirmações de conforto, resta o nada.
O olhar parado sobre o breu que tomou sua vida, agora em sua totalidade. O desejo pelo resgate viria do cinza dos olhos, do dourado do pelo ou do sabor que ficou. A cama vazia não faz sentido algum, ainda que fosse só o desejo de um novo ponto final, a verdadeira recusa é na aceitação de um fim que sempre se fez presente, mas parecia poder ser adiado com amor.
Terá faltado amor? A sensação é de que algo poderia ter sido evitado ou dado a mais, mas seu peito diz que tudo de melhor foi dado, que todo amor foi entregue. Caberia pedir mais uma chance? Caberia mais uma noite? Um sorriso ou uma semana?
Sem caminho próximo, guarda o luto. Respeitar com esperança é a opção do momento. Nada faz sentido agora, só a beleza do que foi vivido consola. Difícil é o vazio que fica e parece sem cura.