Amor é prosa

É namoro ou casamento?

Escrito por Patrícia Librenz

Tem namoro que é meio casamento, né? De tanta intimidade que tem o casal, nem parece que são “apenas” namorados. Mas, e tem casamento que é meio namoro?

Tem namoro que parece que já nasce “meio casamento”, né? Eu namorei dois anos antes de me casar e, embora eu só esteja casada há dois meses, não percebi uma “transição” ou “adaptação”, pois já convivíamos muito juntos. Ao contrário do meu primeiro casamento, que foi um baque tão grande, que achei que ficaria traumatizada pelo resto da vida (mas, que nada, aqui estou eu casadíssima de novo)!

A data que convencionamos celebrar foi a data que está na nossa certidão de casamento; mas, na prática, já estávamos vivendo em matrimônio antes. Desde o início do namoro, ele passava aproximadamente metade do tempo na minha casa e outra metade na casa dele; eu também frequentava bastante a casa dele, embora com menor frequência, já que sempre tive meus bichinhos para cuidar e não podia deixá-los sozinhos ou aos cuidados de terceiros por muito tempo. No começo, eu achava que, com o amadurecimento da relação, a tendência era essa frequência de encontros diminuir, mas aconteceu justamente o oposto: como vendi o carro e fui morar sozinha, ele começou a passar muito mais tempo na minha casa do que na dele, até por questões de segurança mesmo. Nas férias, ele chegou a ficar 2 meses sem dormir em seu apartamento. Quando as aulas foram retomadas, tivemos que fazer uma senhora faxina para o local voltar a ficar “habitável”, de tão abandonado que estava.

De início, só uma escova de dentes e um chinelo davam sinais da presença de um quarto elemento coabitando aquele lar (já que eu dividia a casa com outras duas pessoas); com o passar do tempo, já tinha algumas peças íntimas pedindo espaço na minha gaveta e um casaco precisando de um cabide. Depois, vieram as camisetas, as bermudas… até que precisei reorganizar meu armário para ceder uma gaveta ao invasor. Quando decidi vender o carro e usar o dinheiro para dar entrada num imóvel, acabei ganhando um “sócio” no negócio e, alguns meses depois, troquei a certidão de nascimento pela de casamento. A “minha cama” virou “nossa” e a rotina ficou mais leve, já que agora os afazeres domésticos são divididos. O único criado-mudo que eu tinha, por questões estéticas, foi substituído por um par de criados iguais; a TV era uma só e agora são duas; e eu tenho alguém para furar e parafusar coisas pra mim.

Nos primeiros meses, casamento é assim mesmo: só coisa boa. Mas depois, a rotina massacra a paixão e o casal precisa encontrar alternativas para transformar o casamento em namoro. O exercício é diário e exige dedicação e disciplina, porque, com a intimidade, é muito comum os cônjuges deixarem o tato e o cuidado de lado no trato pessoal. Como eu já passei por uma experiência de casamento que não deu certo, eu suspeito que eu saiba onde falhei e estou tentando, embora sem garantias de sucesso, não cometer os mesmos erros desta vez. Em suma, acho que para um casamento funcionar bem, a gente não pode se deixar acomodar pelo status de “casado”: talvez o segredo seja tratar o(a) parceiro(a) como se ainda fosse teu(tua) namorado(a); buscar agradar a pessoa, mimar, abrir a porta quando ele(a) chegar, namorar mesmo, abraçar, dizer que ama e, acima de tudo, respeitar as diferenças e sempre tentar acordos nas divergências.

Como eu disse lá em cima, meu namoro sempre foi “meio casamento”, mas, agora que estou casada, quero apenas que meu casamento seja sempre “meio namoro”.

Sobre o autor

Patrícia Librenz

Mãe de dois gatos, um autista e outro que pensa que é cachorro. Casou com um veterinário, na esperança de um dia terem uns 837 animais. Gaúcha no sotaque, pero no mucho nos costumes. Radicada em Foz do Iguaçu desde 2008, já fez mais de 30 mudanças na vida. Revisora de textos compulsiva, apaixonada por dicionários. A louca do vermelho. A chata que não gosta de cerveja. A esquisita que não assiste a séries. Dona da gargalhada mais escandalosa do Sul do Mundo. Mestra em Literatura Comparada, é fã de Machado e Borges, mas ignorante de Clarice Lispector e intolerante a Paulo Coelho. Não necessariamente nessa ordem.