Carrego, sobre as marcas arroxeadas das olheiras fundas, meu típico olhar meio caído. Uma mistura de embriaguez com tristeza, daquele jeito que a Emily Blunt às vezes sai nas fotos. E já faz uns anos que as linhas do tempo começaram a cavar seus sulcos por ali. As pálpebras, além de excesso de tecido, estão frequentemente inchadas, como se fermento em demasia tivesse sido acrescido àquela massa.
Quando digo carregar, é porque levo também o peso de anos encurvada em uma cadeira, o que agora me traz dores diárias nas costas e uma séria falta de preparação para fazer qualquer movimento alongado. Uma vida ociosa se evidencia diante de minhas frustradas tentativas em manter as costas retas ou as pernas esticadas, e o corpo automaticamente se dobra. Experimente esticar uma perna para o alto sem dobrar os joelhos na meia idade, e poderá mensurar seu nível de sedentarismo.
Mas, os trinta e cinco são mais que um corpo semi-enferrujado. A idade também traz consigo a consciência de muitos fatos que me esfolam. A crueldade de um mundo em que milhões morrem à míngua, enquanto poucos ostentam castelos. A frieza de uma raça egoísta, que se julga melhor por sua cor, sua crença, sua renda, suas oportunidades. A certeza de que toda vida é finita.
O tempo leva, ano após ano, pessoas que amamos, e deixa uma saudade carnívora, que come nosso coração aos pedacinhos. E, além daqueles que perdi, também lamento o que deixei de ganhar. Tudo o que não conquistei na vida adulta tem sido motivo de uma perseguição pessoal que não se difere muito da autoflagelação.
Nunca se é tarde para aprender, para mudar, pra se mexer. Porém, a passagem dos anos faz com que eu me sinta mais fatigada por qualquer movimento brusco no corpo ou na mente. E, depois, as reflexões sobre o que eu não fiz, sobre os lugares que deixei de ir e os esforços que deixei de fazer serão a minha tormenta. É como passar o dia me arrastando no piloto automático, e ter o cérebro religado com todas as pendências me azucrinando ao afundar a cara no travesseiro.
Talvez, este ano o peso da idade tenha batido com mais força que o necessário. Ainda estou sentindo as dores e cuspindo os dentes. As costas retas deram lugar novamente à posição fetal. As pernas esticadas com dor e esforço agora se dobram para afundar em horas de inércia no sofá, para mais tempo perdido — ainda que agora eu tenha menos tempo a perder — diante de séries que eu já vi.
No entanto, apesar da coça que a vida vem me dando, o que dói mais é saber que a mudança, ainda que tardia, é necessária — isso, e ouvir que depois dos trinta e cinco, pros quarenta é um pulo.
[…] aos trinta e cinco, uma eu resiliente e cansada relatava neste site as dores e os dissabores da nova idade, aos trinta […]