Amor é prosa

Amor de Tinder

Escrito por Patrícia Librenz

Ela baixou o Tinder justamente porque não queria um relacionamento. E o que encontrou foi um amor de app.

Cansada de tentar, ela decidiu desistir. O Tinder não foi sua última tentativa de encontrar o amor, longe disso. Ela instalou o aplicativo justamente no momento em que decidiu que era chegado o momento de “jogar a toalha”. Foda-se tudo! 

Desiludida, não acreditava mais que pudesse encontrar um homem capaz de compreender suas necessidades e aceitá-la do jeito que era. O mestrado já a ocupava o bastante, não havia tempo para distrações ou “DRs”. “Relacionamento dá muito trabalho”, ela dizia. É impossível não concordar.

Ela não queria alguém nem para dividir a cama, muito menos para dividir a vida; só queria uma válvula de escape, alguém que fosse uma companhia agradável e pudesse proporcionar alguns momentos de relaxamento entre um artigo e outro. Talvez só sexo casual fosse melhor a melhor alternativa mesmo. 

O primeiro encontro até que não foi inteiramente ruim, não fosse o fato de ela descobrir, semanas mais tarde, que o cidadão era casado e escondia o jogo. Partiu pra outra… ou melhor, pra outro. Homem maduro, vivido, com a mente mais aberta… ele era inteligente, gostava de cozinhar e, por algumas semanas, proporcionou exatamente o que ela buscava. Seria perfeito se ele não tivesse a mente “aberta demais”. 

Estava difícil encontrar um meio-termo. O que era pra ser divertido e leve, acabou virando um stress, pois, no final das contas, ela sempre estava “procurando” algo. Então, como sinal dos céus, a placa-mãe do seu smartphone queimou… 45 dias foi o prazo dado pela assistência técnica. Ela estava de férias, mas tinha três artigos para escrever. Foi providencial.

Enfiou a cara nos livros e, após concluir o segundo artigo, percebeu que precisava “dar um tempo” dos estudos. Estafada, pediu socorro a um amigo, dizendo que iria surtar se não saísse de casa. Foram beber… ela ainda tinha um artigo para terminar, mas estava em um estado de esgotamento mental nunca antes experimentado. O amigo disse: 

_ Você precisa relaxar! Baixe o Tinder!
_ Não tenho como baixar o Tinder, estou sem celular!
_ Você não sabia que existe uma versão para o Windows 10?
_ Nãããoooo! Me mostra!

No dia seguinte, baixou o app no computador. Seu critério era: “Somente turistas! Um encontro só e a pessoa vai embora, sem nenhuma possibilidade de virar relacionamento”. Começou a busca… “Esse, não… Esse, não… Esse não… Opa! Sorriso bonito! Hummm… é do Rio de Janeiro! E gosta de Rock!”. Curtiu o exemplar pelo conjunto da obra: sorriso, turista e camiseta do AC/DC… “match”! Foi ele quem puxou papo. O homem era extrovertido, inteligente e usava ponto de interrogação em todas as perguntas – coisa rara no Tinder.

No dia seguinte, foram se conhecer. Conversaram, beberam caipirinha, riram, se divertiram, descobriram afinidades… foi então que ele revelou que estava se mudando para a cidade. Já havia alugado um apartamento, mas precisava voltar para o Rio para resolver algumas pendências e buscar suas coisas. Ele não era turista… “errou feio, errou rude”!

Mas era tarde demais para recuar, ela já havia se afeiçoado a ele e, pela primeira vez, gostou de dividir a cama com um homem que acabara de conhecer: foi amor à primeira conchinha. E ela não cumpriu o que prometera, já que tiveram três encontros consecutivos.

Quando ele foi embora, ela comprou um smartphone para servir de estepe. Afinal, era impossível ficar sem WhatsApp numa situação dessas! Foram os 40 dias mais longos da sua vida… E, no dia em que ele voltou, os dois ficaram juntos novamente… e no dia seguinte de novo, de novo e de novo… E eles estão aí “ficando” até hoje, há praticamente 2 anos e 9 meses. Só que agora, morando na mesma casa e dividindo os boletos.

O Tinder? Nunca mais eles usaram! Maior furada!

Sobre o autor

Patrícia Librenz

Mãe de dois gatos, um autista e outro que pensa que é cachorro. Casou com um veterinário, na esperança de um dia terem uns 837 animais. Gaúcha no sotaque, pero no mucho nos costumes. Radicada em Foz do Iguaçu desde 2008, já fez mais de 30 mudanças na vida. Revisora de textos compulsiva, apaixonada por dicionários. A louca do vermelho. A chata que não gosta de cerveja. A esquisita que não assiste a séries. Dona da gargalhada mais escandalosa do Sul do Mundo. Mestra em Literatura Comparada, é fã de Machado e Borges, mas ignorante de Clarice Lispector e intolerante a Paulo Coelho. Não necessariamente nessa ordem.

Comente! É grátis!