Embora eu seja gaúcha de nascença (ninguém é perfeito, gente!), e tenha crescido praticamente em uma roda de chimarrão, sou muito mais “team” café. Pra mim, quanto mais forte (e doce), melhor.
Melhor que o café, só o seu aroma. Eu não vivo sem café. Sou dependente da cafeína. Não gosto das cápsulas, prefiro o café de verdade. Meu preferido é o da moka, mas admiro, também, o sabor proporcionado pela prensa francesa.
O café coado manualmente é uma opção interessante, pois envolve um poderoso ritual de preparação – uma pena que o filtro retenha os óleos essenciais. Ultimamente, até me rendi à cafeteira elétrica da firma que, surpreendentemente, faz um café “bem honesto” – parafraseando a membra da minha banca de mestrado, ao tentar fazer um elogio a um capítulo da minha dissertação.
E, por falar em mestrado, ao longo da minha formação, eu observei que nenhum professor do curso bebia café doce. Cem por cento doutores, alguns pós-doutores, todos só tomavam café amargo.
Ao longo desse percurso, participei de algumas bancas de qualificação e assisti a algumas defesas de colegas meus. Em algumas, inclusive, me ofereci para levar o café. Fazia uma garrafa doce e outra sem açúcar. Apenas nós, mestrandos (os “reles mortais”) bebíamos o café doce. Em uma das bancas, como havia mais doutores do que mestrandos, o café amargo acabou e nenhum dos docentes se atreveu a beber o café doce, que sobrou quase inteiro.
Eu, mestranda na época, comecei a desconfiar que existe uma espécie de “código” na academia: só é doutor quem bebe café sem açúcar – para o bom entendedor, meia xícara de café basta!
Os bebedores de café amargo devem estar torcendo o nariz pra mim neste momento: “Ser gaúcha até que vai, mas tomar café doce?”. Eu sei, eu sei. E, já que não posso mudar (sequer negar – o sotaque não permite) minha origem gaudéria, decidi mudar minha relação com o café.
Visando continuar meus estudos stricto sensu, há pouco mais de um ano (desde a minha defesa), comecei a reduzir o açúcar gradativamente, até que cheguei no meu apogeu: há 20 dias, estou bebendo café sem açúcar. Para quem já é acostumado e prefere essa bebida amarga, pode parecer uma tolice, mas para mim, acreditem, é uma baita superação!
Nas últimas três semanas, sinto-me cada vez mais perto do doutorado. Embora esteja evoluindo, sei que ainda não estou pronta, pois o pré-requisito para ser doutor não se limita a simplesmente beber o café sem açúcar: é necessário PREFERIR café sem açúcar! E, pra isso, ainda tenho um longo caminho pela frente…
No dia que eu beber um café doce e pensar: “nossa, que coisa horrível!”, saberei que já estou pronta para o próximo passo. Mas, até lá, sigo bebendo meu café amargo e fazendo careta (mentalmente, claro). Afinal, não existe vitória sem sacrifícios…
E você, já pode ser doutor?
Então eu sou doutor e não sabia rs. Aprendi a tomar café sem açúcar quando fui morar no Japão. Alias, no Japão encontra-se café brasileiro de primeira qualidade. O açúcar mascara o sabor da bebida, eis a verdade. E se me permite, o nosso café é como a nossa música. No Brasil consumimos o refugo e exportamos a melhor parte, quer seja na música, quer seja no café.
Muito bem observado!