Divã-neando

Café com ou sem açúcar?

Escrito por Patrícia Librenz

O café pode ser o segredo para começar bem o dia, ou para trilhar um caminho de sucesso na pós-graduação.

Embora eu seja gaúcha de nascença (ninguém é perfeito, gente!), e tenha crescido praticamente em uma roda de chimarrão, sou muito mais “team” café. Pra mim, quanto mais forte (e doce), melhor.

Melhor que o café, só o seu aroma. Eu não vivo sem café. Sou dependente da cafeína. Não gosto das cápsulas, prefiro o café de verdade. Meu preferido é o da moka, mas admiro, também, o sabor proporcionado pela prensa francesa.

O café coado manualmente é uma opção interessante, pois envolve um poderoso ritual de preparação – uma pena que o filtro retenha os óleos essenciais. Ultimamente, até me rendi à cafeteira elétrica da firma que, surpreendentemente, faz um café “bem honesto” – parafraseando a membra da minha banca de mestrado, ao tentar fazer um elogio a um capítulo da minha dissertação. 

E, por falar em mestrado, ao longo da minha formação, eu observei que nenhum professor do curso bebia café doce. Cem por cento doutores, alguns pós-doutores, todos só tomavam café amargo.

Ao longo desse percurso, participei de algumas bancas de qualificação e assisti a algumas defesas de colegas meus. Em algumas, inclusive, me ofereci para levar o café. Fazia uma garrafa doce e outra sem açúcar. Apenas nós, mestrandos (os “reles mortais”) bebíamos o café doce. Em uma das bancas, como havia mais doutores do que mestrandos, o café amargo acabou e nenhum dos docentes se atreveu a beber o café doce, que sobrou quase inteiro.

Eu, mestranda na época, comecei a desconfiar que existe uma espécie de “código” na academia: só é doutor quem bebe café sem açúcar – para o bom entendedor, meia xícara de café basta! 

Os bebedores de café amargo devem estar torcendo o nariz pra mim neste momento: “Ser gaúcha até que vai, mas tomar café doce?”. Eu sei, eu sei. E, já que não posso mudar (sequer negar – o sotaque não permite) minha origem gaudéria, decidi mudar minha relação com o café.

Visando continuar meus estudos stricto sensu, há pouco mais de um ano (desde a minha defesa), comecei a reduzir o açúcar gradativamente, até que cheguei no meu apogeu: há 20 dias, estou bebendo café sem açúcar. Para quem já é acostumado e prefere essa bebida amarga, pode parecer uma tolice, mas para mim, acreditem, é uma baita superação! 

Nas últimas três semanas, sinto-me cada vez mais perto do doutorado. Embora esteja evoluindo, sei que ainda não estou pronta, pois o pré-requisito para ser doutor não se limita a simplesmente beber o café sem açúcar: é necessário PREFERIR café sem açúcar! E, pra isso, ainda tenho um longo caminho pela frente…

No dia que eu beber um café doce e pensar: “nossa, que coisa horrível!”, saberei que já estou pronta para o próximo passo. Mas, até lá, sigo bebendo meu café amargo e fazendo careta (mentalmente, claro). Afinal, não existe vitória sem sacrifícios… 

E você, já pode ser doutor?

Sobre o autor

Patrícia Librenz

Mãe de dois gatos, um autista e outro que pensa que é cachorro. Casou com um veterinário, na esperança de um dia terem uns 837 animais. Gaúcha no sotaque, pero no mucho nos costumes. Radicada em Foz do Iguaçu desde 2008, já fez mais de 30 mudanças na vida. Revisora de textos compulsiva, apaixonada por dicionários. A louca do vermelho. A chata que não gosta de cerveja. A esquisita que não assiste a séries. Dona da gargalhada mais escandalosa do Sul do Mundo. Mestra em Literatura Comparada, é fã de Machado e Borges, mas ignorante de Clarice Lispector e intolerante a Paulo Coelho. Não necessariamente nessa ordem.

2 comentários

  • Então eu sou doutor e não sabia rs. Aprendi a tomar café sem açúcar quando fui morar no Japão. Alias, no Japão encontra-se café brasileiro de primeira qualidade. O açúcar mascara o sabor da bebida, eis a verdade. E se me permite, o nosso café é como a nossa música. No Brasil consumimos o refugo e exportamos a melhor parte, quer seja na música, quer seja no café.

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