Divã-neando

Natal, tempo de estar junto

Escrito por Rose Carreiro

O Natal pode significar muitas coisas: o nascimento de Jesus, um tempo de vida nova, de agradecer, de ter comida farta e trocar presentes. E o Natal também significa estar junto.

O Natal sempre foi a melhor época do ano pra mim. Tem gente que gosta de aniversários, do feriado prolongado no Carnaval, das comidinhas da época de festa junina, mas o Natal sempre foi minha data favorita desde a infância.

Apesar de sermos uma família simples, minha mãe, assim como meus tios e minha avó, sempre fizeram questão de manter a tradição do Natal como deveria ser: casa decorada, árvore com pisca-pisca e presépio, presentes – sempre nominados, para delírio das crianças, que ficavam apalpando as embalagens com seus nomes pra desvendar o que havia ali dentro.

Nos meus tempos de criança, minha vó tinha criação de porcos e, seguindo o cardápio das festas, todo ano meus tios matavam um porco, que era devidamente compartilhado entre parentes e vizinhos, e garantia o pernil assado na noite do dia 24. Com a TV ligada no especial de Natal da Globo, seguido da missa do Galo, esperávamos até a meia-noite para a troca de presentes e a ceia. 

Eu cresci, obviamente a ansiedade pelos presentes diminuiu, mas ainda continuei adorando o Natal e celebrando a data com a minha família. O espírito natalino me acompanhava ano a ano, mais timidamente, mas sempre deixando aquele quentinho no meu coração. Até que eu me mudei de cidade.

Vim para Londrina, onde a família do meu bem não fazia questão de celebrar o Natal, e eu acabei não viajando para visitar minha família no primeiro ano, pois já havia estado lá um mês antes. Eu me arrependo de muitas coisas nessa vida, e não ter passado o Natal de 2010 na casa da minha avó é uma delas. Foi o último Natal com meu tio Manoel vivo. Na época, eu não sabia, mas ele já tinha consciência de que seria seu último Natal, e eu não estava lá com ele. 

Não sou religiosa faz tempo, e celebrar o Natal sempre foi mais sobre esse clima de festa, família e fartura. Mas, depois que o tio Manoel nos deixou, o Natal virou um tempo de compromisso. Haja o que houver, é a época em que eu preciso estar junto de quem eu amo. Por isso, nessa época, sempre tento encontrar meus amigos – aqui e lá, e viajo, com meu barbudo do lado, para “casa”.

Na saúde ou na doença, minha mãe sempre monta a árvore com os pisca-piscas, e só não deixa os presentes ali porque Nero, o cachorro, os comeria com papel e tudo. Tristes ou felizes, nos juntamos à noite, em volta da mesa, com o pernil assado – agora minha vó não tem mais a criação de porcos, mas minha mãe providencia uma pata caprichada no açougue – e mais aqueles 50 acompanhamentos que minha tia faz questão de servir. 

O ano passa muito rápido, planejamos tantos encontros e viagens, e momentos juntos da família e dos amigos, mas o tempo voa e acabamos não fazendo metade do que desejamos. E eu sinto que preciso deixar esse conselho a quem não gosta do Natal: se a data não é importante pra você pelo significado religioso; se você considera o Natal um tempo de consumismo; ou se acha que os encontros em família e confraternizações são apenas eventos compulsórios cheios de falsidade… Eu até concordo com quase tudo isso, mas ainda insisto que siga minha sugestão.

Experimente usar esse tempo para demonstrar – com presentes, ou uma cartinha, fazendo um jantar – afeto aos seus. Aproveite para combinar os cafés que ficaram sempre naquela promessa distante do “vamos marcar”. Se não pode ajudar a alguém durante o ano todo, tente pelo menos por um mês praticar a caridade. Não é hipocrisia, imagine isso como um primeiro passo.

E visite a sua avó, os seus tios, seus amigos, esteja com os seus pais, reúna os parentes, ou com qualquer um que represente uma família pra você. Porque não é possível estar junto sempre, mas é pior ainda não poder estar junto nunca mais. 

Sobre o autor

Rose Carreiro

Nascida num 20 de Outubro dos anos 80. Naturalmente petropolitana, com passaporte carioca. Flamenguista pé frio e expert em não se aprofundar em regras esportivas. Fã de Verissimo – o Luis Fernando – e Nelson, o Rodrigues (apesar de tudo). Poser. Pole dancer com as melhores técnicas para ganhar hematomas. Amadora no ofício de cozinhar e fazer encenações cômicas baratas. Profissional na arte de cair nos bueiros da Lei de Murphy.

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