Canto dos contos

É pra olhar ou pra comer?

Escrito por Bruno Leo Ribeiro

Sérgio era um piadista nato, mas um belo dia resolveu parar.

Sérgio Alves Dutra nasceu em uma família simples.

Cresceu em uma casa em que o mais importante era a companhia da família.

Não tinham muita coisa.

Era mais uma dessas famílias que estão no limite do orçamento, de ter que vender o almoço para comprar o jantar.

Quando criança, Sérgio não tinha muito brinquedo. 

Ele ganhava 1 brinquedo por ano e era apenas no Natal.

Durante o resto do ano, acabava brincando com sua própria imaginação.

Ele inventava histórias e brincadeiras divertidas.

Na falta de bens, tentava ser o mais engraçado da turma.

Enquanto todas as crianças da escola tinham os novos videogames e bicicletas de última geração, Sérgio tinha seu carisma.

Com o passar do tempo, percebeu que ser engraçado era um jeito de ser aceito nas turminhas da escola.

Ele era um piadista.

Contava piadas ruins com os famosos pontinhos coloridos.

E também contava piadas divertidas com as aventuras do lendário Pedrinho na escola.

A vida foi passando, e ele sempre levava tudo com muito humor.

Conseguiu passar no vestibular. Arranjou um emprego bacana. Ajudou a família inteira e sempre era a pessoa mais animada das festas de fim de ano.

Ele achava graça em tudo.

O seu jeito foi ficando chato para alguns.

“Nunca sei quando o Sérgio tá falando sério ou não”.

Em alguns momentos, Sérgio chegava em um grupo de pessoas reunidas no trabalho e todo mundo ia saindo aos poucos.

Ele não ligava.

Fazia piada com tudo.

Ninguém aguentava mais, e um dia foram reclamar com ele.

Ele ficou muito magoado e decidiu parar de fazer piada o tempo todo.

Resolveu que iria falar de assuntos sérios.

No Natal com a família, Sérgio não fez nenhuma piada.

Ficou a noite inteira falando de política e não deixava ninguém falar.

Quando iam argumentar com ele sobre algum assunto, ele pedia pra esperar.

“Deixa eu terminar o meu argumento!”, dizia ele, um pouco exaltado.

Até que seu sobrinho de 10 anos levantou a mão pedindo a palavra.

Sérgio ficou tocado com o gesto do sobrinho e pediu que o menino falasse.

“Tio Sérgio, eu gostava mais de você quando você contava a piada do pavê ou pacumê.”

Sobre o autor

Bruno Leo Ribeiro

Diretor de arte por profissão, músico, produtor musical e compositor por teimosia. É host do podcast sobre música Silêncio no Estúdio e já escreveu um romance chamado “Todas as Cores: ascensão e queda de um publicitário”, publicado em 2017. Entre um e outro projeto, cria um novo projeto para ficar ocupado antes de criar um novo projeto. Curioso e dedicado, agora se aventura escrevendo seus deboches, personagens caricatos e suas observações do cotidiano. Mora em Helsinki na Finlândia desde 2011 e diz que seu melhor trabalho, foi a co-produção de dois adoráveis seres humanos.

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