Canto dos contos Murphy Days

Murphy no encontro (Parte III e final)

Escrito por Bruno Zanette

A noite parecia perfeita entre Felipe e Manuela, mas tranquilidade não combina com os dois. Apesar de tudo, a companhia foi muito valorizada.

Antes de ler este texto, sugiro que acompanhe as outras duas partes, aqui e aqui.

Não havia nada planejado entre Felipe e Manuela. Simplesmente marcaram de se encontrar, mas sem definir um local específico. Decidiram ir a uma famosa rede de lanchonetes, pois chegaram ao consenso de que comer é uma ótima forma de quebrar o gelo. Difícil é controlar a vontade de comer de qualquer jeito e se lambuzar sem medo de ser feliz. Afinal de contas, no primeiro encontro sempre queremos causar boas impressões.

No caminho até a lanchonete, o som do carro estava ligado com músicas das bandas que Manuela gosta. Não era por acaso, Felipe estudou bem os gostos da moça, antes de iniciar as conversas. Nessa história de que os “opostos se atraem”, há controvérsias. Às vezes só serve para se afastarem mais ainda. Mas eles tinham gostos parecidos na música, nos filmes, nos livros…

Carro estacionado, pedido feito e retirado no balcão (cada um pagou o seu, que fique claro), procuraram uma mesa para sentar e degustar o lanche. Eram tempos sem pandemia. Durante aquele período, conversaram sobre diversos assuntos. Os shows a que cada um foi e os próximos a que pretendem ir – inclusive juntos, se possível –, os livros que leram ou estavam lendo, os próximos lançamentos do cinema. Rapidamente, foram se entrosando e ganhando cada vez mais intimidade, as risadas eram uma constante.

De estômagos cheios, concordaram que a noite estava boa demais para terminar ali. Foram a um desses bares com bandas cover ao vivo. A diversão estava garantida. Os olhos de Felipe brilhavam ao ver o sorriso de Manuela, e o retorno era recíproco. O beijo entre os dois era inevitável e só questão de tempo. E aconteceu. Ao som da música favorita dos dois.

A noite era uma criança e queriam aproveitar cada segundo. O dia seguinte era domingo, teriam tempo de sobra para recuperar as energias. Mas, essa história está muito correta para quem passou perrengues na preparação. Está na hora de dificultar a vida dos dois.

Pretendendo esquentar a relação entre eles, acharam por bem ir com o carro até uma rua tranquila e segura para ficarem mais à vontade dentro do automóvel. Seria uma ótima ideia, não fosse o veículo resolver não funcionar. Problemas com a bateria, talvez. Ou eletrônico, não se sabe ao certo. Felipe era péssimo com carros, só sabia dirigir mesmo. Péssimo também era o momento disso ocorrer.

Partiu de Manuela a ideia mais ousada. Irem ao motel de táxi. Felipe, bem mais tímido que a moça, ficou receoso da atitude, mas não quis demonstrar e concordou. Deixaram o carro estacionado – no dia seguinte Felipe resolveria esse problema -, e foram a um ponto de táxi 24h, próximo dali. Nervoso, as palavras mal saíam da boca de Felipe para dizer ao taxista o destino. Manuela completou.

Agora vem Murphy: o motorista de plantão era um senhor que se havia se mudado há pouco tempo para a cidade, e ainda não conhecia bem as ruas e avenidas por onde dirigia. Muito menos os motéis. Era a primeira vez que lhe pediam tal destino. Isso não acontecera nem mesmo na outra cidade onde morava, bem menor e mais pacata que a atual. Mesmo assim, trabalho é trabalho e não podia recusar.

Mas teria sido melhor ser sincero e dizer que não podia aceitar. O taxista simplesmente se perdeu umas três ou quatro vezes, se não mais. No banco de trás, Felipe e Manuela trocavam sorrisos e olhares aflitos, mas apesar de tudo, curtiam o maior tempo juntos. Até que finalmente, após muitas idas e vindas, o tal motel foi encontrado pelo taxista. Ele os deixou no portão de entrada e o carro nem entrou, deu a marcha ré e foi embora. A pé e um pouco constrangido, o casal pediu por um quarto.

Chaves em mãos, chegaram ao quarto disponível. Seria um “enfim, sós”. Nem deu tempo de fazerem muita coisa. O celular de Manuela tocou. Era a mãe dela, com algum tipo de problema. Ela mentiu sobre onde estava e disse que logo chegaria em casa.

A noite não terminou como esperavam. Foram à portaria, pagaram o valor integral. Certamente a atendente deve ter pensado que o garoto era muito precoce ou que o casal brigou, mas ela não questionou a rapidez, nem deveria. Felipe e Manuela pediram outro táxi (eram tempos antes dos transportes por aplicativos). E quando estavam indo embora, já dentro do carro, Felipe segurou a mão de Manuela e os dois se olharam e sorriram. Não era a noite perfeita, mas sabiam que a companhia era a melhor possível.

Sobre o autor

Bruno Zanette

Jornalista nascido e formado em Foz do Iguaçu-PR. Adora falar e contar histórias, por isso o rádio foi veículo onde mais trabalhou. Mas é na escrita onde costuma se expressar melhor. Gosta de um bom rock, livros, filmes e esportes (assiste bem mais do que pratica). Torce e sofre pelo Grêmio, não exatamente nessa ordem. Apesar de bem-humorado, gosta de piadas de humor bem duvidoso, e acha que a melhor maneira de rir é de si mesmo. Por isso, acredita que a própria vida poderá servir de inspiração para boas crônicas e contos. E tudo o mais que vier na telha para escrever.

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