[Este causo aconteceu antes da pandemia]
Dia desses, antes do micróbio maldito interromper nossas vidas, fui ao shopping comprar umas brusinha, e resolvi também dar uma renovada no estoque de lingeries. Saí da loja feliz e realizada com calcinhas e soutiens novos, pronta para arrasar o “coração” dos crushes, e me dirigi até um daqueles balcões de atendimento onde a gente cadastra as notas fiscais para concorrer a um carro. “Estou com sorte”, pensei. E, como vocês sabem, quem provoca Murphy desse jeito sempre tem o que merece.
Cadastrei todas as notas fiscais no terminal de autoatendimento e, tendo satisfeito minhas aspirações consumistas, fui em direção ao estacionamento para ir embora. Parei no guichê para pagar, e depois parti para o carro.
Ocorre que, estabanada que sou, e carregando diversas sacolas, era claro e cristalino que alguma m…urphy iria acontecer.
Ao colocar todas as compras no carro, percebi que a sacola da lingerie estava vazia. Era uma daquelas sacolas grandes, de papel, e as peças haviam sido embaladas em papel de seda, de maneira a formar um embrulhinho fechado. Obviamente, em algum momento do caminho, a sacola deveria ter virado e minhas compras – ou seja, minhas lingeries -, caído no chão.
Voltei desesperadamente refazendo todos os meus passos e analisando atentamente o chão, já imaginando que alguém tinha encontrado minhas calcinhas por aí – e, em caso afirmativo, eu teria que mudar de cidade caso a pessoa me identificasse, é claro. Comecei pelo estacionamento, perguntando se tinha câmeras que pudessem ter registrado o momento do extravio, porém não obtive sucesso.
Depois, voltei ao guichê do sorteio, e conversei com a moça que estava atendendo, que me respondeu que não havia visto nada, mas que se encontrasse poderia entrar em contato comigo. Deixei, então, meu nome e meu telefone lá com ela – o que tenho certeza de que ela anotou como “a moça que perdeu as calcinhas”.
Já desanimada, suando em bicas, afoita, resolvi que o melhor era desistir mesmo e me conformar com o prejuízo de algumas centenas de reais gastas em peças íntimas cuidadosamente escolhidas para fazer cosplay de gostosa.
Porém, para minha grata surpresa, quando eu já estava quase chorando em murphyano, me aproximei do meu carro, vi um embrulhinho caído num canto que não havia checado antes, e meu coração até disparou de alegria. As lingeries estavam lá – e o pacote estava intacto, o que significa que, felizmente, ninguém além de Murphy havia futricado minhas calcinhas.