Divã-neando

Silêncio

Escrito por Leandro Duarte

A tarde é de domingo, o tempo não ajuda, de um cinza nada convidativo. Seu tempo de ócio é tão importante quanto seu tempo produtivo. É tempo de aproveitar o silêncio.

Silêncio, xiiii.

A tarde é de domingo, o tempo não ajuda, de um cinza nada convidativo.

O resto de ressaca, a idade, o conforto da casa, etc. Forças monumentais que nos prendem num abraço reconfortante. Há quem condene a milenar arte de derreter no sofá; eu não! Eu celebro esses momentos. São cada vez mais raros e ao mesmo tempo mais fundamentais para as atividades cada vez mais desgastantes do nosso dia a dia, tipo ver pronunciamento de secretário de cultura nazista, e vagabundo passando pano. Seu tempo de ócio é tão importante quanto seu tempo produtivo.

Mas prossigamos com a tarde de domingo nada convidativa.

O silêncio. Na rua, vez ou outra um carro passa, a rua vazia de homo sapiens, nem o cachorro do vizinho está latindo.

Recentemente me livrei de assinaturas de TV a cabo, não coloquei nenhum outro tipo de antena para canais abertos, nem nada. Bom, acredito que boa parte das pessoas de minha idade tem visto cada vez menos TV e passando mais tempo na internet (essa bosta), mas, mesmo sem assistir TV, ela estava sempre ligada. Largados e pelados, Desafio sob fogo, essas paradas, sempre tocando os mesmos episódios dois meses seguidos. Confesso que no início perdi a referência sobre qual era a hora do dia, todo mundo sabe que quando termina Trato Feito no domingo, é hora de desacelerar, porque amanhã tô fodido no trampo.

Mas sem a TV ligada sempre, e só apenas quando tenho interesse no que está passando, porque escolhi o capitulo, ouvi o silêncio. E que saudade eu estava dele. Aquelas saudades que você só percebe que tem quando revive a situação, tipo quando faz geladinho de kisuco e lembra como é bom esse pozinho radioativo congelado com água da rua.

O silêncio da casa me fez ouvir não só a treta do vizinho, mas o vento, o ronco do Uísque, meu cachorro, a freada animal que algum turista bêbado deu ali na pista. A panela de pressão, porque tem que fazer marmita, né mano. O silêncio fala alto pra cacete, e com a máquina de lavar centrifugando e dançando o vira, ao mesmo tempo.

O silêncio é a segunda melhor coisa de cancelar a TV a cabo, me desculpem os românticos, mas se livrar daquela porra de fatura é que é vida, amigão.

Sobre o autor

Leandro Duarte

Leandro, 33 anos, ganha a vida em projetos e TI, talvez por isso sem a menor paciência para toda essa bobagem nerd e cultura pop. Em resumo, inadequado. Grande demais para a poltrona do ônibus de todos os dias.
Pequeno demais para sorrir de tudo. Velho demais para um banho de chuva; muito novo para temer o resfriado. Direto demais para a palavra escrita, e de menos para se fazer compreender. Humano demais para viver de tecnologia. Humano de menos para largar tudo. Comunista demais para os dias de hoje. Comunista de menos para o que é preciso ser feito.
Mesmo inadequado, segue peleando. Como era de se esperar, falhando miseravelmente.

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