Correndo o risco de soar repetitiva, voltarei a falar aqui de Alceu. Mas pelo menos não mencionarei a pandemia. Alceu Valença, muso de minha última crônica, relatou, entre muitas histórias em sua live, uma passagem sobre a música Tesoura do Desejo. Vim então dar meus dois reais a respeito da teoria valenciana aqui.
O cantor contava que escreveu Tesoura do Desejo ao reencontrar sua ex-namorada em Nova Iorque. Ao vê-la, após o fim do relacionamento, com um novo corte de cabelo, ele soube que não reatariam. Nas palavras de Alceu, “toda mulher quando corta o cabelo depois de uma separação, saiba, minha gente, ela não vai voltar pra ninguém”. E a letra da música resultado desse encontro fala sobre o desejo (da mulher) de mudar.
Me disseram uma vez que, quando a gente muda o visual, é porque passou nosso prazo de validade. Até então, estamos satisfeitas (ou não nos sentimos incomodadas) com a nossa cara frente ao espelho. Mas, um belo dia a gente “vence”, ou passa por eventos traumáticos ou marcantes e então resolve que precisa mudar. Por que na maioria das vezes a mudança começa pelos cabelos? “Porque cabelo É tudo. É a diferença entre um dia bom e um dia ruim”.*
Talvez a simbologia do corte de cabelo como uma virada de página esteja impregnada de expectativas, e no fim das contas, pouca coisa mude. Mas o valenciano está coberto, desde as suas longas madeixas, de razão. A gente muda os cabelos pra se desfazer de fases ruins, pra tirar do rosto a expressão cansada de tempos difíceis. Pra renascer, se renovar. Pra virar a página. Às vezes, a gente apela pra tesoura do desejo de mudar porque precisa se reencontrar numa nova versão.
*Fleabag, temp 2, ep 5