Texto do leitor Lucas Begnini
Você certamente já perdeu alguém e sentiu que estava perdendo uma parte de você, certo? Se não, desculpe, mas Vinicius de Moraes tem uma mensagem pra você “Quem já passou por essa vida e não sofreu pode ser mais, mas sabe muito menos que eu”. Se sim, parabéns, você entrou pro seleto (não tão seleto assim) grupo dos que vivem. Mas é possível amenizar isso?
Você jamais vai conseguir conhecer alguém por inteiro. O que temos do outro é apenas um reflexo da nossa consciência projetando algum desejo, enaltecendo características que nos são tão acalentáveis e que são capaz de anular quase completamente outras características (algumas não tão positivas).
Sabe aquele rapaz que você conheceu outro dia, que parecia ser perfeito pra você? Te recitava coisas que você adorava escutar, parecia adivinhar tudo o que você estava pensando e desejando, mas esqueceu de abrir a porta do carro? Na verdade, você projetou uma parte de você nele, esperando que a parte externa dessa pessoa correspondesse à sua vontade interna, a uma expectativa sua de encontrar alguém que tornasse sua vida mais leve em meio a esse turbilhão de dificuldades que a vida pode ser.
Sabe aquela menina que tinha o sorriso mais encantador? Que parecia falar sobre tudo o que era legal? Sobre futebol, livros e filmes? Mas disse que você era intenso demais e você fingiu não ligar? O que aconteceu foi que você se apaixonou por uma parte de você projetada em uma pessoa que te parecia ideal num mundo real.
Os sentimentos às vezes podem ser confusos, difusos e até obtusos. Mas, ainda assim são sentimentos, fruto da relação um pouco complexa entre sódio e potássio que faz disparar associações e sensações entre os neurônios. Toda pessoa, lembrança, desejo, nada mais é que um reflexo que de algo interno que criamos e tentamos transportar para o mundo externo na tentativa de tornar a vida mais divertida.
Pode parecer simplório falando assim, mas as relações humanas são baseadas em expectativas e projeções. Tudo relacionado a sentimentos são interpretações de ações que você cria na sua cabeça. Criamos dentro da gente um reflexo de cada pessoa baseada em ações pontuais. Ou seja, quando nos apaixonamos, estamos nos apaixonando por uma parte de nós mesmos. Projetamos os nossos Animus e Anima, como apresentou Carl Jung, que, segundo ele, é a percepção da nossa contraparte sexual, e nela projetamos características inerentes ao sexo oposto que não são conscientes.
E dessa projeção se origina o sentimento de perda de um pedaço nosso quando nos afastamos, quando nos decepcionamos ou até perdemos alguém. Porque, de fato, dentro do nosso cérebro, estamos perdendo parte da gente.
Uma forma de amenizar esses difusos sentimentos é conhecer seu Animus/Anima e procurar em você as qualidades que você tanto busca. Aos poucos, você começará a se amar mais do que imagina. E quando isso chegar à sua plenitude, talvez aí você comece a se apaixonar pelas pessoas de fato. E quando o fim chegar, você talvez sinta só saudades, e não luto.
Mas, não se iluda, isso é um eterno policiamento. Você terá que sempre se perguntar “eu estou me apaixonando por mim ou pelo outro?”