Se, aos trinta e cinco, uma eu resiliente e cansada relatava neste site as dores e os dissabores da nova idade, aos trinta e seis anos, trago mais verdades e também um relato de sobrevivência desses que foram os mais longos meses da nossa geração. No meu caso, 2020 veio acompanhado de um reset pessoal que ainda estou configurando. Deixo aqui algumas atualizações e um backup para efeito de comparação.
Meu olhar se mantém caído – o da Emily Blunt nas fotos também, seguimos sem intervenções cirúrgicas, eu e ela (acho). As rugas se aprofundaram e são mais vistas agora, felizmente, porque carrego, além de linhas de expressão, mais sorrisos diante dos pequenos momentos sublimes.
As costas ainda doem, porém, muito mais por trabalho do que pela sobrecarga emocional. As cadeiras continuam ruins. Não há flexibilidade suficiente para um espacate, mas a ponta de pé já finaliza meus giros na barra com alguma leveza.
A realidade do mundo ainda me esfola, a aspereza com que as pessoas se revelam ainda dói. A enxurrada de más notícias que veio na tempestade desse ano também me arremessou num paredão de pedregulhos. Mas, eu acordei. Ao menos, saí da dormência, do mais ou menos. Deixei de me conformar que a vida era só isso.
Tenho aprendido muito com os outros e comigo, tenho sido criativa e tenho criado, inclusive, oportunidades. Tenho cuidado de mim – e até de Hilda, a gata, que oportunamente ganhará uma crônica felina neste espaço. Os trinta e seis vieram mais leves do que eu imaginava. Em momento algum, há um ano, eu diria que teria um assoprar de velas mais otimista.
Os quarenta estão mais próximos, o corpo está mais velho, mas o coração ganhou muito mais lembranças de bons momentos do que lamentações pelo passar da idade. Aquela mudança tardia veio, por mim, pelos que me ajudaram, por quem e pelo que me empurrou pra uma beirada de onde eu consegui, finalmente, decolar.
Comecei as linhas deste texto com a vontade de compartilhar uma lição no final desses novos 365 dias depois dos famigerados três-ponto-cinco. Depois de revisar os últimos meses, esbanjo e deixo duas: a única coisa que não se recupera na vida é o tempo; mas, nunca é tarde pra sair de onde você não se encaixa mais.
Adorei! 36 anos é uma linda idade, aproveite!
Obrigada, Gabi <3