Envelhecer é amargurar-se um pouco a cada dia. Se você não envelheceu 15 anos em 2020, parceiro, algo está errado.
Já não consigo me lembrar daquelas tardes lindas do começo da quarentena, o Instagram era basicamente ginástica em casa e tardes com céus coloridos.
Tinha os shows nos prédios, os tiozinhos cantando ópera, e tal. Isso foi 15 anos atrás mais ou menos.
Aqui no bairro, toda noite, por volta das 20h, uma galera de um prédio começava a aplaudir sei lá o quê. Sempre quis saber o que essa galera aplaudia, ficava viajando no motivo. Acho que não era um tiozinho cantando ópera porque eu não ouvia nada, talvez algum médico da “linha de frente” chegasse no prédio sempre naquele horário.
O tempo passou e as palmas pararam, eu nem sei te dizer quando elas pararam e tampouco descobri sua motivação. Isso faz bem uns 10 anos.
Se tem algo que não mudou de 15 anos pra cá é a porra do governo, né, mas nem quero falar disso hoje. Meu joelho dói, virou o tempo. Aquele joelho que machuquei na escola, manja?. Tô ficando velho e amargo.
O relaxamento no distanciamento está prestes a nos jogar para mais alguns anos de escuridão, e eu só penso na vacina. Estes anos passados em 2020 estão duros demais para não se ter alguma esperança. Mesmo velho, não consigo admitir que 2021 será pior, mesmo amargo, acredito em uma saída para esse inferno. Como na maioria das vezes, sairemos através da Ciência. Todo velho deveria valorizar a Ciência, é a única forma de reduzir o amargor dos anos. Ah sim, temos álcool também.
Mau humor é o novo normal, diriam os psicoterapeutas no fundo do meu copo, tenho consultado cada vez mais essa galera. Se vejo alguém muito felizão, a antipatia já me me abraça, o estômago queima, o pescoço dói.
Eu sei que tô ficando velho e amargo, 15 anos atrás eu já sabia disso e meu joelho ainda não doía. Sinto falta das tardes alaranjadas.