Tecnicamente, o tempo nada mais é do que uma invenção do ser humano para mensurar as coisas. Um ano tem 365 dias, mas, a cada quatro anos, tem 366; tem quatro estações e 12 meses. Uma semana tem sete dias, e um dia tem 24 horas – ou 1.440 minutos.
Todos esses números, na prática, significam apenas que a gente precisa de marcos temporais para administrar a nossa vida e a nossa rotina. Em suma, temos que ter calendário e horário para fazer as coisas, se não, o mundo moderno não funciona.
Mas, a verdade é que a gente nunca dominou, de fato, o tempo. A natureza nunca se importou com os nossos algarismos. A gente é que encaixotou os dias e as noites, as fases da lua e os giros da Terra ao redor de si mesma e do Sol, para criar uma noção de passado, presente e futuro, para ordenar nossas obrigações e o dia do vencimento dos boletos.
E, mesmo com toda essa matemática, sempre parece que nada nunca acontece na hora certa. A gente tenta culpar o trânsito, as intermináveis reuniões, as descomunais listas de afazeres, o inalcançável padrão do mercado. Mas, acontece que a vida é, por si só, anacrônica.
O dia não passa na mesma cadência pra todo mundo. As minhas 24 horas não são as mesmas que as suas. O seu tempo certo pode não ser o mesmo que o meu – frequentemente, não o é.
Enquanto alguns fazem planos e os cumprem à risca, outros estão sempre – como eu – sentindo-se não apenas no lugar errado, mas no tempo errado. Não pertenço, não me encaixo, não alcanço. Como um ponteiro emperrado de um relógio com a pilha fraca, que até tenta, mas não sai do lugar.
Não é agora. Mas, quando? Será que eu é que sou desajustada, destoante e desafinada? Ou o compasso do mundo é que é pra poucos? Para aqueles parcos seres humanos invejáveis que conseguem fazer suas vidas caberem nesses recortes de tempo?
Será que o negócio é simplesmente seguir o baile, ainda que você não saiba dançar naquele ritmo?
Eu prefiro acreditar que não. Ainda que, na maior parte do tempo, eu me sinta desajeitada e descoordenada, e gaste uma energia tremenda tentando bater as palminhas na hora certa, eu ainda tendo a pensar que uma hora dessas eu vou acertar o pulo. Mas, no meu tempo. Seja ele qual for.