Depois de pouco mais de um ano e meio isolado, fechado em casa, vendo alguns poucos amigos muito de vez em quando, aos poucos, longe da família e passando por crises de ansiedade e pânico quando ia no mercado comprar detergente, finalmente me dei uma chance de ir a um restaurante.
Com as duas vacinas pra dentro, escolhi um lugar aberto, com uma mesa na rua, sem nenhuma outra por perto e a certeza de que todos os garçons estavam de máscara.
O restaurante era no Leme, Rio de Janeiro, a uma quadra da praia, num dos metros quadrados mais caros do Brasil. Eu sabia que nada naquele cardápio teria menos de dois dígitos antes da vírgula.
Quase acertei. Tinha um mate por nove reais. E logo abaixo, um mate com limão por doze reais.
Eu fiquei olhando aqueles dois valores e refletindo sobre esse um ano e meio que eu fiquei isolado.
Foram mais de 18 meses acordando, trabalhando e dormindo em casa num ciclo sem fim, interrompido às vezes para ir ao mercado, como num apocalipse zumbi.
Foram mais de 70 semanas sem ver amigos, parentes, colegas de trabalho e outros humanos de forma offline, apenas por telas de computadores e celulares, naquele turbilhão de gente falando ao mesmo tempo quando não devia, ou falando com o microfone desligado quando devia.
Foi de março de 2020 a novembro de 2021 pensando se o emprego estava garantido, se ia ter nova redução de equipe, se ia ter comida na mesa todo dia, se ia sobrar salário no fim do mês ou mês no fim do salário.
Isso tudo passou em meio nanosegundo pela minha cabeça. Então eu decidi:
_ Quer saber? Vamo botar limão nesse mate.