Se tem um sentimento mais genuinamente humano que a saudade, eu desconheço. O ser humano é saudosista por natureza. A gente sente saudade de lugares, momentos, cheiros, sabores, sensações e pessoas.
A gente se agarra a essa saudade, às vezes, com tamanha devoção que ela parece se materializar, se solidificar, se tornar quase palpável. A gente carrega essa saudade cotidianamente, deixa ela sentadinha ali ao nosso lado enquanto cumprimos os afazeres rotineiros, e a abraçamos novamente na hora de dormir.
A gente nunca deixa de sentir saudade. Porém, por mais contraditório que possa parecer, isso não significa em hipótese alguma que o objeto da nossa saudade seja real, ou mesmo atual.
Cada momento que vivemos é único, e jamais conseguiremos repeti-lo. Não importa quantas vezes você faça a mesma viagem ou vá ao mesmo restaurante, nada nunca será igual. E o mesmo se aplica às pessoas.
Ao longo da vida, conhecemos muitas pessoas. Algumas delas permanecem conosco por toda a nossa jornada. Outras, porém, estão ali apenas por um momento, um efêmero fragmento do espaço-tempo. Mas, dependendo das circunstâncias, tendemos a superestimar essas memórias e as transformamos em saudades.
Que atire o primeiro dislike quem nunca se pegou sentindo saudade de alguém que não vê há anos, mesmo não tendo mais a menor ideia de como essa pessoa é ou está atualmente. Ou, pior: acompanhando a fulana nas mídias sociais e achando ruim porque ela mudou.
Aqui vai uma notícia: ninguém tem a obrigação de continuar sendo o que a gente conheceu. Se atualmente a pessoa virou vegana, crossfiteira, presbiteriana ou viciada em reality show, não cabe a mim, a você nem a ninguém criticá-la, julgá-la ou secretamente se “decepcionar” porque ela não é mais a mesma. Até mesmo porque você também não é.
E esse é um tipo traiçoeiro de saudade: sentimos falta das pessoas como se elas fossem imutáveis, e desconsideramos o fato indiscutível de que, na grande maioria das vezes, o que conhecemos foi apenas uma versão daquela pessoa. E está tudo bem. Mesmo.
Então, da próxima vez em que você se flagrar se apegando a uma idealização abstrata sem lastro na realidade, sofrendo por um devaneio, apenas lembre-se das minhas palavras e aceite que, muito provavelmente, aquela pessoa não existe mais. Ou você passa a (re)conhecer, aceitar e amar as pessoas como elas são agora – e repete o processo indefinidamente -, ou o melhor jeito é apenas dar adeus à saudade.