Divã-neando Pensamentos crônicos

Adeus, saudade

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Escrito por Mayara Godoy

“Nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia. Tudo passa, tudo sempre passará”.

Se tem um sentimento mais genuinamente humano que a saudade, eu desconheço. O ser humano é saudosista por natureza. A gente sente saudade de lugares, momentos, cheiros, sabores, sensações e pessoas.

A gente se agarra a essa saudade, às vezes, com tamanha devoção que ela parece se materializar, se solidificar, se tornar quase palpável. A gente carrega essa saudade cotidianamente, deixa ela sentadinha ali ao nosso lado enquanto cumprimos os afazeres rotineiros, e a abraçamos novamente na hora de dormir.

A gente nunca deixa de sentir saudade. Porém, por mais contraditório que possa parecer, isso não significa em hipótese alguma que o objeto da nossa saudade seja real, ou mesmo atual.

Cada momento que vivemos é único, e jamais conseguiremos repeti-lo. Não importa quantas vezes você faça a mesma viagem ou vá ao mesmo restaurante, nada nunca será igual. E o mesmo se aplica às pessoas.

Ao longo da vida, conhecemos muitas pessoas. Algumas delas permanecem conosco por toda a nossa jornada. Outras, porém, estão ali apenas por um momento, um efêmero fragmento do espaço-tempo. Mas, dependendo das circunstâncias, tendemos a superestimar essas memórias e as transformamos em saudades.

Que atire o primeiro dislike quem nunca se pegou sentindo saudade de alguém que não vê há anos, mesmo não tendo mais a menor ideia de como essa pessoa é ou está atualmente. Ou, pior: acompanhando a fulana nas mídias sociais e achando ruim porque ela mudou.

Aqui vai uma notícia: ninguém tem a obrigação de continuar sendo o que a gente conheceu. Se atualmente a pessoa virou vegana, crossfiteira, presbiteriana ou viciada em reality show, não cabe a mim, a você nem a ninguém criticá-la, julgá-la ou secretamente se “decepcionar” porque ela não é mais a mesma. Até mesmo porque você também não é.

E esse é um tipo traiçoeiro de saudade: sentimos falta das pessoas como se elas fossem imutáveis, e desconsideramos o fato indiscutível de que, na grande maioria das vezes, o que conhecemos foi apenas uma versão daquela pessoa. E está tudo bem. Mesmo.

Então, da próxima vez em que você se flagrar se apegando a uma idealização abstrata sem lastro na realidade, sofrendo por um devaneio, apenas lembre-se das minhas palavras e aceite que, muito provavelmente, aquela pessoa não existe mais. Ou você passa a (re)conhecer, aceitar e amar as pessoas como elas são agora – e repete o processo indefinidamente -, ou o melhor jeito é apenas dar adeus à saudade.

Sobre o autor

Mayara Godoy

Palestrante de boteco. Internauta estressada. Blogueira frustrada. Sarcástica compulsiva. Corintiana (maloqueira) sofredora. Capricorniana com ascendente em Murphy. Síndrome de Professor Pasquale. Paciente como o Seo Saraiva. Estudiosa de cultura inútil. Internet junkie. Uma lady, só que não. Boca-suja incorrigível. Colunista de opiniões aleatórias. Especialista em nada com coisa nenhuma.

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