Lá estava eu, em uma sala de cinema com algumas dezenas de desconhecidos, vendo um filme que poderia fazer qualquer coisa comigo, menos marejar os olhos. Caixinha de surpresas que é a vida, eu quase chorei assistindo a Rite Here, Rite Now, o filme-show da banda sueca Ghost.
Se você a conhece minimamente, sabe que o que se espera de qualquer aparição da banda seja uma paródia muito bem executada e com excelente musicalidade sobre satanismo, ocultismo, etc. Os integrantes da banda, fantasiados, e o Papa Emeritus IV nos vocais, tornam tudo muito teatral e, no mínimo, engraçado. Mas, sem spoilers, em meio ao que pra mim foi a melhor performance do show, o vocalista fez um discurso sobre você estar feliz até que você não esteja mais. E que isso é a vida. Eu querer chorar diante de estranhos com as palavras de um Papa mórbido era uma piada. Ou uma das ironias da vida.
Fazia muitos meses que eu lutava pra não ser só triste, e apesar de ter vivido momentos alegres, graças às pessoas que me amam e que vieram me apoiar, no fundo, estava lá: a tristeza, no fim do dia, sempre me deixando com a sensação de que faltava um pedaço.
Eu continuei fazendo tudo o que poderia me fazer bem, e ainda assim, eu não me sentia feliz. Me sentia incapaz, me sentia sobrevivendo, me sentia errada e, acima de tudo, sentia que o que eu mais queria, eu nunca teria. Eu não era especial, eu era só mais uma e o que me dava o direito de pensar que era merecedora da felicidade, de ser querida, de ter o que os outros tinham?
Pois, quinta-feira, eu sozinha no cinema, com meu melhor traje de gótica suave, me sentia muito feliz ali naquela sala, cantando as músicas que eu havia conhecido há poucas semanas em uníssono com o resto dos espectadores do filme. Mesmo sabendo que depois eu iria pra casa e, que em algum momento, eu não estaria mais assim. E, quando Tobias Forge, o Papa Emeritus IV, ou Cardi, falou sobre felicidade, era como se ele estivesse falando pra mim. Eu me senti “bem ali e agora”, a vida era aquilo, a consciência de que eu e todo mundo poderíamos estar felizes, até que, uma hora, não estaríamos mais.
Foi assim que também me levei pra ver a Orquestra Ouro Preto na praia. Aproveitei pra ficar descalça na areia e tomar uma cerveja superfaturada, cantar a-ha sem vergonha de ser desafinada, dançar no meio de estranhos e partir quando deu vontade. Ser feliz por uma hora e meia, sabendo que ia acabar.
Meus dias têm sido esses: vivendo coisas que me deixam feliz, até que eu não esteja mais. Tentando largar mão do passado e não sofrer pelo futuro. Aceitando que nem tudo é pra mim. E, é claro, também sigo vivendo coisas que me deixam triste, “tentando sorrir sobre elas, escondendo as lágrimas nos olhos”.
Houve dias, semanas, meses, em que eu achei que a tristeza nunca teria fim. Que se a vida acabasse ali, não faria diferença. Nem seria má ideia. E isso é algo triste de se constatar, sabendo que há tanta vida dentro de si. Quando eu me sinto viva, é como se eu fosse explodir, um bicho encoleirado se livrando das amarras, uma faísca caindo numa poça de gasolina. Essa explosão não nascia mais em mim. Eu achava que ela tinha morrido. Até que ela viveu de novo.
A tristeza, de fato, ainda não passou. Mas, ao menos, ela não tem me impedido de ter momentos felizes. Hoje, eu fico triste, até não ficar mais. E isso também é a vida.