Pensamentos crônicos

A Maior das Virtudes

Escrito por Guilherme Alves

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Quando eu tinha 15 anos, ganhei uma máquina fotográfica de presente. Era uma das mais baratinhas, porque minha família não era de muitas posses. Comprei um filme de 24 poses (para quem ficou surpreso, não existia máquina digital ainda, mal existia computador, pra dizer a verdade) e fui todo feliz pra escola com ela.

Tirei minhas 24 fotos, e, ao final, usei a manivelinha que fazia o filme voltar para dentro do tubo pra gente poder abrir, pois, se ele pegasse luz, as fotos se perdiam. Quando apareceu o aviso de que era seguro abrir a máquina, o fiz – apenas para descobrir que a manivelinha não funcionou, e o filme ainda estava lá, exposto. Fechei correndo, levei na loja que fazia a revelação, e a moça tirou o filme na câmara escura, deixando ele lá para revelar. 24 horas depois, veio a notícia da qual eu já desconfiava: o filme havia velado, e eu havia perdido todas as fotos.

Essa triste história foi para ilustrar uma coisa que eu tenho reparado ultimamente: as pessoas andam cada vez com menos paciência, e, na minha opinião, um dos culpados é o fato de que, hoje em dia, tudo é muito rápido.

Voltando à história da máquina: eu tive que comprar um filme, usar ele até o final, levar na loja, esperar um dia inteiro, e ainda assim perdi as fotos todas. Não pude ver nenhuma, não pude guardar nenhuma. Mas tive que ter muita paciência até alcançar o resultado, mesmo ele tendo sido desfavorável.

Quantas fotos a gente tira por dia (às vezes por hora) hoje? Pode ver se ficou boa ou não e tirar outra na hora. Pode botar na nuvem, para que, mesmo que perca o celular, não perca as fotos. Falando nisso, não precisa nem lembrar de levar a máquina fotográfica, todo mundo já anda com uma no bolso. Houve uma época na qual era comum o “que cena linda, pena que eu não trouxe a máquina”, algo praticamente inacreditável hoje.

E a velocidade do mundo moderno não está só nas fotos, mas em tudo. Quer uma informação? Está lá, na hora, basta buscar. Quer uma pizza? Está lá, (quase) na hora, basta pedir pelo aplicativo. Quer saber qual a maneira mais rápida de se chegar a algum lugar, pra não perder tempo perguntando pros outros? Tem um aplicativo pra isso também.

Tudo muito maravilhoso, fato, mas, aparentemente, na mesma velocidade que essas coisas chegam até nós, nossa paciência está indo embora. Se as coisas não vêm na velocidade da luz, a gente reclama, xinga, bufa, perde o interesse.

Talvez seja a hora de dar um passo pra trás, respirar fundo, e entender que cada coisa tem seu ritmo. Que esperar faz parte da experiência. Que certas coisas são melhores quando feitas devagar.

Que pra nem tudo na vida tem aplicativo.

Sobre o autor

Guilherme Alves

Nascido numa tarde quente de verão no Rio de Janeiro, casado aparentemente desde sempre, apaixonado por idiomas (se pudesse, aprenderia todos). Professor de inglês porque era a única profissão que parecia fazer sentido, blogueiro porque gosta de escrever desde que a Tia Teteca mandava fazer redação. Coleciona DVDs, tem uma pilha de livros que comprou mas ainda não leu maior que uma pessoa (de baixa estatura) e um monte de jogos de tabuleiro que não tem tempo de jogar. Fanático por esportes, mas só para assistir, porque é um pereba em todos eles. Não se pode ter tudo na vida.

2 comentários

  • Sou fotógrafo das antigas, revelava minhas fotografias em casa, no meu laboratório. Mas deixando a fotografia de lado e vendo a coisa como um todo, concordo contigo, esse imediatismo é um problema sério. Voltar um passo atrás não é retroceder.

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