Relatório de Evidências

Sobre atitudes politicamente incorretas

Escrito por Nathalia Karl

Alcançamos a decadência plena com a frase mais lida no fim de semana: “se você curte o que fulano de tal pensa, não seja mais meu amigo, se retire daqui”. Falimos como seres humanos quando condicionamos nossas relações de afeto com esse tipo de coisa.

garotoPrecisamos falar sobre essa tal intolerância que está a assolar nossa saúde mental e vidas em comunidade.

Nunca, em tempo algum, eu achei que amizades seriam desfeitas por conta de posicionamentos religiosos, futebolísticos e agora, políticos.

Me dá um pouco de medo observar tantas pessoas abrindo mão de suas relações de amizade por conta dessas convicções partidárias e ideológicas. Não me lembro de ter criado laços de afeto e bem-querença por motivos pré-definidos. Não compreendo essa lógica e me dou o direito constitucional de dobrar o Cabo da Boa Esperança sem entender. Essa é a minha forma de ser intolerante. Intolerante à ignorância que tomou proporções quase irreversíveis.

O mundo estar perdido não é novidade para ninguém, mas as pessoas contribuindo para acelerar o processo é algo verdadeiramente muito triste.

Alcançamos a decadência plena com a frase mais lida no fim de semana: “se você curte o que fulano de tal pensa, não seja mais meu amigo, se retire daqui”. Falimos como seres humanos quando condicionamos nossas relações de afeto com esse tipo de coisa. Assumimos  publicamente essa incapacidade de aceitar verdadeiramente o semelhante independente de suas escolhas. Acho, e só acho, que as bactérias hoje têm um estado mental mais legal e menos equivocado que o nosso.

Quer dizer que se você curte um Aviões do Forró você não pode ter amizade com um fã de Calypso que isso vai dar mais erro que o Windows 10?! Acabou o respeito! Para que tanto radicalismo? Tenho visto muita gente intolerante, mais até que a lactose, gente com mais síndrome da escolha irritável do que intestino. Vem pra luz, gente!

Obviamente várias pessoas me irritam e eu, claro, irrito várias outras com meus pensamentos e atitudes, mas se eu mandar essa de “não curte o que eu curto, vaza”, eu vou ficar pelada no meio do nada, pois nem as minhas roupas vão querer me aturar.

Sugiro um trabalho intenso de tolerância em prol de tempos melhores e em nome da mantença das boas amizades, pois o que eu mais gosto nas pessoas é exatamente essa diferença, naquilo que os outros têm e eu não, no tudo de bom que alguém diferente pode me trazer, me fazer querer ser um pouco dela também. Se eu quisesse estar próxima de alguém parecido demais comigo eu andaria com um espelho pendurado no pescoço, e seria a pessoa mais triste e vazia do mundo. Auto-amor e admiração é legal só até a página dois.

Vamos segurar essa inquietude para a briga e pensar no outro como mais do que uma orientação política, certamente vamos nos surpreender com essa redescoberta. Vem!

Sobre o autor

Nathalia Karl

Nathália é uma vítima de suas próprias frases mal alinhavadas que lhe rendem um retrato falado que não corresponde a realidade.
Está lançado o desafio: Se não gostarem, processem-me.