O bordão criado pela Rede Globo para essas Olimpíadas 2016 pode até parecer um clichê, mas é possível ir além e perceber o quanto há de verdade numa frase tão simples.
Somos todos olímpicos, mesmo.
Talvez não sejamos todos atletas. Talvez, não sejamos corredores, nadadores, triatletas, jogadores de futebol, de vôlei, judocas, boxeadores, ginastas. Talvez a gente até seja sedentário. Mas nossa vida continua se assemelhando a uma olimpíada.
As semelhanças entre os esportes e a vida não ficam apenas na dinâmica de algumas modalidades, mas na forma como a vida e os Jogos Olímpicos podem ser metaforicamente comparados.
Em ambos precisamos passar pela superação, pelas alegrias, esforço, dor, derrotas, pelas vitórias e eventualmente chegamos à glória! Às vezes, a gente é meio Diego. Cai de bunda. Cai de cara. Mas um dia cai de pé e sobe ao pódio. O momento doce da coroação de tanto esforço. O dia que ficará pra sempre na memória.
Nossa vida não é narrada pelo Galvão, e não tem um comentarista entusiasmado como o Guga, mas nem por isso é menos desafiadora (ou emocionante) que uma prova de olimpíada. É preciso a resistência de um maratonista para percorrê-la, a elasticidade de um ginasta, a força de um atleta do levantamento de peso. A obstinação de um atleta que vai em busca de quebrar um recorde e obter uma medalha inédita.
O caminho é longo e tortuoso. Poucos são aqueles que passam por essa maratona em um percurso plano, sem pressa ou sem precisar dosar suas forças para não “morrer no gás”. Os altos e baixos do percurso são o desafio, assim como os momentos de dúvida. A vida pede velocidade, resistência e constância. Um pouquinho de fé também.
Nossos limites são testados o tempo todo – os limites físicos e os psicológicos. Como mais ou menos diz nosso sábio Rocky Balboa: “Não é o quanto você consegue bater. É o quanto você consegue apanhar”. E seguir em frente. Os maiores e mais verdadeiros recordes são internos e nem sempre comemorados. Isso quando não são percebidos com algum atraso, como a chinesa hilária da natação.
A vida é assim mesmo. Entre uma pirueta e outra, um tombo. O chão é a punição pela pequena falha, é a desatenção, é o golpe que acontece sem que a gente consiga perceber. É preciso resistir, é preciso compreender, como no judô, que o chão também é parte do percurso.
As verdadeiras medalhas de ouro não são materiais, embora leve um tempo enorme para que a gente possa perceber isso. A vitória real é da resistência, da continuidade, de aguentar cada porrada, superar cada obstáculo com leveza e um sorriso na cara, até nos piores momentos, mesmo quando remamos contra o curso da corredeira.
É preciso lutar, sempre, mesmo que você saia sem a vitória, mas ovacionado pela torcida, como a Marta, a Cristiane, a Formiga. É preciso tudo isso para que possamos, no final, acreditar que completamos a jornada com uma atuação digna de pódio. É preciso, mais que resiliência, autoconhecimento. Reconhecer nossas debilidades e fraquezas, desenvolvendo-as pouco a pouco, sempre sabendo que a perfeição não existe – a menos que você seja o Bolt, é claro.
Mas, nosso maior recorde olímpico é a superação de cada dia.