Relevo as asas cortadas pelos dias, o adeus da companhia quase orbital das nuvens e observo o ensaio de um beijo cinematográfico na boca do otimismo.
Em queda livre, o vento é mais sincero. É a massagem no rosto capaz de atenuar um cotidiano sádico que adora nocautear nossa melhor face, em horário comercial.
Sem paraquedas, abrimos sorrisos. A natural expressão de boas notícias aterrissando em territórios inexplorados. Respirando com dificuldade o ar da gentileza pois os pulmões não estão acostumados com adjetivos puros.
Na memória, o parque de diversões eterno que era o mundo visto de cima. Mas daqui, até as melhores lembranças caem por terra. Vamos além das raízes, deixando de ser intocáveis admiradores para ingressar de cabeça numa bateria de corações.
Uma vez no chão, temos que aprender a ver a beleza dos escombros. Marchar sobre as armadilhas emocionais e criar canções sobre cada pequeno fracasso.
O que não mata, vira trilha sonora.
As decepções são medalhas que nos ensinam atalhos até a apoteose. Baixamos as armas e aceitamos tiros de peito aberto, pois quem não sangra não aprende a se coagular. Nos enterramos em solos desconhecidos apenas com a intenção de fazer a diferença na vida de alguém.
É a coragem de quem um dia levantou voo e hoje valoriza as pegadas que produz na terra.