Acho que uma das maiores mentiras propagadas como mensagem de autossuficiência – mas que não passa de autoajuda barata – é essa de que “você não tem que provar nada pra ninguém”. Não queria ser eu o arauto das más notícias, mas, a gente passa a vida tendo que provar uma porrada de coisas pra uma porrada de gente, sim.
Desde que nascemos, somos sobrecarregados com uma enorme quantidade de expectativas depositadas sobre nós e que, aos poucos, tornam-se exigências e “responsabilidades” às quais precisamos atender e submetê-las à aprovação alheia.
A começar pelos nossos pais. Desde que somos crianças e adquirimos um certo grau de consciência, carregamos conosco a necessidade de provar a eles que estamos pondo em prática os ensinamentos que nos dão, que somos bons filhos e boas pessoas, que temos determinadas habilidades e que gradativamente estamos fazendo por merecer a confiança deles.
E assim, sucessivamente, quando prestamos vestibular – e precisamos, literalmente, provar que temos capacidade de entrar para a universidade -; quando nos submetemos a uma entrevista de emprego e precisamos provar para o empregador que somos qualificados para o trabalho; quando já estamos no trabalho e precisamos provar dia após dia que permanecemos comprometidos, atualizados e competentes. Somos avaliados o tempo todo.
Enfim, a vida é uma sucessão infindável de provas às quais temos de comparecer e atingir um certo nível de satisfação, sejam elas formais ou informais. Nos relacionamentos, mesmo, também temos que provar aos nossos pares sermos dignos de seu amor, afeição, temos de demonstrar fidelidade, lealdade, etc.
Então, me dá três tipos de nervoso quando vejo esses discursos rasos e baratos por aí, dizendo que a gente não tem que provar nada pra ninguém, quando na verdade nossa vida nada mais é que um grande conglomerado de cobranças e compromissos, no qual as responsabilidades aumentam em progressão geométrica à medida que envelhecemos ou simplesmente conforme buscamos fazer coisas novas.
A única ressalva – a única mesmo – que eu posso fazer a essa afirmação é a de que existe uma linha, bastante tênue na verdade, que separa “termos que provar algo para alguém” dessa necessidade barata de “provarmos qualquer coisa para qualquer um, apenas por mera necessidade de audiência”, muito comum em tempos de redes sociais – ou de meramente ser um people pleaser.
Realmente, você não precisa “provar” para os outros que você é feliz, que tem autoestima, que tem o melhor namorado do mundo, que emagreceu seis quilos, que suas escolhas pessoais são super sensatas e coerentes… isso aí você pode guardar para si mesmo. No mais, seguimos precisando de aprovação, sim. Afinal, somos seres sociais – e sociáveis – e tudo, absolutamente tudo no mundo é baseado em avaliações externas, em parâmetros, em configurações pré-estabelecidas, em rankings e o escambau.
Sejamos, então, o melhor que pudermos no que nos é exigido, e deixemos para lá o que for apenas para alimentar o ego. Encontremos, pois, o equilíbrio entre “aprovação” e “necessidade de afirmação”, que são coisas distintas, mas facilmente confundíveis.